domingo, 21 de abril de 2013

Lição de vida


Num qualquer dia da semana passada cruzei-me na rua com uma "imagem" real que me reteve a atenção.

Tratava-se de uma senhora de idade que acompanhava um jovem que, presumo, não teria mais de 13/14 anos, de quem a referida senhora seria a respectiva avó, sem que consiga efectuar semelhante exercício de antecipação da sua possível idade.

A cena era "típica": o jovem em frente, em passo apressado e a senhora, incapaz de acompanhar tal ritmo, seguia imediatamente atrás.

O "tempo" de cada um já não é o mesmo, nem a percepção que cada um tem da presença de ambos naquele local e naquele momento.

Mas é precisamente este o elemento que mais impele a escrever sobre ele, isto é, que "tempo" é afinal este que os separa, sem conseguir deixar de imaginar esta mesma "cena" com outros "intérpretes" há vários anos atrás.

Remete-me a mim próprio para um certo dia em que ao regressar da escola encontrei a minha avó que me aguardava de surpresa e passei por ela dizendo simplesmente "olá avó", assim, sem mais, indiferente, mas marcando para sempre aquela imagem na minha memória como se de uma tatuagem se tratasse.

Se também aquele jovem aparenta ignorar, como se de um leve fardo se tratasse, a presença da sua avó na sua retaguarda, certamente para a idosa a possibilidade de estar ali a acompanhar, mesmo que à distância, o seu neto estará muito para além de algo que lhe possa ser irrelevante.

A existência de uma geração entre eles acentua tudo aquilo que aquela idosa tem para transmitir, toda a sua experiência de vida e todos os seus ensinamentos mesmo que, como uma folha amarelada do tempo, tudo passa parecer desfasado ou antiquado.

Mas o "papel" dos avós ao longo dos tempos sempre foi este e creio sempre será, mesmo que a Sociedade vá mudando e com ela também as pessoas e as suas formas de relacionamento.

Numa sociedade marcadamente rural durante grande parte da sua história, era esta mesma experiência e estes mesmos ensinamentos que permitiam à geração assegurar a continuidade da sua própria auto-subsistência, através da capacidade de perceber a importância - quase devoção - da terra, dos animais e até, sem o sentido actual do tema, da importância da protecção do meio-ambiente.

Mas também a noção que nada dali se obtém sem esforço, sem sacrifício e que os "tempos" da natureza não se compadecem com períodos "suspensão" para gozo de férias, feriados ou fins-de-semana.

Nas cidades era por ali que passava uma certa noção de estabilidade, assegurando uma presença constante, de maior proximidade entre as gerações, uma espécie de garante permanente de um membro da família que "compensava" o progressivo "afastamento" dos pais.

Em qualquer dos casos, no campo ou na cidade, eram eles que mais do que falar, sabiam ouvir, sem quase contestar, mesmo que discordando, ou sequer compreendendo o que se lhe dizia, no fundo é como se também neste capítulo não se incomodassem de "andar" dois passos atrás.

Contudo, o seu "papel" e a compreensão do mesmo não são - alguma vez o foram? -necessariamente entendidos por quem os escuta ou simplesmente para eles olha, gerando não raras vezes o efeito contrário do distanciamento por parte daqueles de quem precisamente mais gostam.

E este é, provavelmente, o nosso grande erro e de que um dia mais tarde estaremos talhados para nos arrepender.

A imagem daquele rapaz de passo apressado faz-me reflectir que ele pode até nem perceber, como eu não percebia, mas não sabe a sorte que tem. Assim vão as cousas.





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