Os últimos dias
“trouxeram”, com “entusiasmo” redobrado, para a primeira linha do espaço
noticioso e das redes sociais, a mensagem da condenação pública do anterior
executivo relativamente aos males de que o país padece.
Sem
querer entrar directamente nesta “frutuosa” e “estimulante” disputa de apurar
entre aqueles que nos governaram e aqueles que nos governam qual o maior
“contribuinte” para o actual desgoverno, interessa-me, isso sim, analisar o
momento em que tais notícias surgem, agora que o país “discute” os termos do
segundo orçamento para 2013.
Ora,
nesta mesma semana, o Sr. Jean-Claude Juncker, presidente do Euro Grupo,
manifestou o seu contentamento pela consolidação orçamental portuguesa
verificada no corrente ano ao mesmo tempo que a Sra. Angela Merkel valida (se
necessário fosse) a chamada “política de austeridade” do actual Governo,
durante a sua curta “estadia” por cá.
Em
qualquer dos casos a apreciação positiva dada por tão ilustres representantes
da actual Europa a 27 velocidades, não pode deixar de ser entendida como o
resultado de uma ponderação sobre os resultados da referida politica de
austeridade, bem como da execução do orçamento de estado - o primeiro da
responsabilidade da actual maioria - e aquele que, em bom rigor, se encontra
“alinhado” com os termos e os compromissos assumidos pelo Estado Português no
âmbito do memorando assinado com a “troika” o tal que, para quem disso não se
recorde, foi validado pelo Governo de então e pelos dois partidos que
actualmente compõem a coligação.
A
parte que torna mais difícil de entender esta equação é que, precisamente no
mesmo espaço temporal – se assim podemos chamar – em que uns proclamam o
sucesso do programa de ajustamento e da consolidação orçamental, são tornados
públicos outros dados que colidem frontalmente com esta visão que poderia ser
apelidada de cor-de-rosa, não fosse o caso do Governo privilegiar os tons
laranja e azul.
E
que notícias foram, afinal, essas que surgem em manifesto contra-ciclo com
o entendimento dos “senhores da Europa”?
São
precisamente aquelas que parecem demonstrar que o optimismo de uns parece não
ter reflexo na realidade, excepto se numa espécie de maquiavelismo tardio,
alguém possa colocar o epiteto de sucesso num país que atingiu no terceiro
trimestre deste ano a sua mais alta taxa de desemprego de sempre, ou ainda que,
afinal de contas, o “deficit” previsto para este ano – já de si revisto em
relação à estimativa inicial – ficará acima do acordado com a “troika”, ou mesmo
que a queda do PIB se situa actualmente em 3,4% em relação ao mesmo período ano
transacto.
Mas
não só. Também aquele que tem sido o pilar de algum equilíbrio da balança
comercial do Estado – as exportações – revelam um sentido descendente,
contrariando a sua tendência inicial a que se soma a convicção/certeza de que a
recessão para este ano se deverá situar em 3% e de 1.6% no próximo ano, ou
seja, acima das expectativas do Governo.
Associado a tudo isto
regista-se um número crescente de falências ou ainda um fluxo de emigração que
não era vista por cá desde os anos 70, face à incapacidade do país em gerar
emprego ou ainda pelo agravamento da situação fiscal da generalidade dos
cidadãos, seja daqueles que trabalham seja daqueles que ficaram desempregados
ou daqueles que nem uma coisa nem outra, por se encontrarem já reformados.
Nada do que atrás fica
dito é fruto de uma imaginação tortuosa ou extraída de um qualquer panfleto de
uma organização contestatária, mas sim a súmula dos dados que INE,
Banco de Portugal, CES, OCDE têm vindo a publicar e, pasme-se, do próprio FMI
que curiosamente, parece cada vez mais ter interiorizado que a sua “receita”
contra a crise é, no mínimo, falível, como aliás recentemente e humildemente
tiveram a ocasião de reconhecer.
Dito isto quais são,
afinal de contas, os dados de que o Sr. Juncker e a Sra. Merkel dispõem que os
faz exibir tamanha confiança na economia portuguesa?
Ninguém – talvez nem os
próprios – saberá ao certo as motivações do Governo e de tais pessoas para
aparentemente rejubilarem com tão evidentes sinais contraditórios,
provenientes, repito, de insuspeitas instituições nacionais e internacionais.
Por isso mesmo, não será
de estranhar que falhando o orçamento e respectivo rectificativo, as metas do
memorando com a “troika” ou das sucessivas e renovadas medidas de austeridade,
sejamos tentados a, uma vez mais e em uníssono, dizer que a responsabilidade de
tais falhanços é de outros e não de nós próprios.
E assim será até ao
momento em que, de tanto olhar para trás ignorando o que está para a frente,
percebam que estão novamente fora do Governo e que são, uma vez mais, oposição.
Assim vão as cousas.
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