Durante o primeiro mandato do
anterior Governo foi criado um programa na área do ensino que foi, na ocasião,
intitulado de Novas Oportunidades.
Tal como o nome indicava, o
objectivo deste programa era o de proporcionar o alargamento do referencial
mínimo de formação até ao 12º ano de escolaridade, a todos aqueles que por
qualquer motivo não tiveram ocasião de aceder a tal nível de ensino no momento
próprio, independentemente da idade actual.
O objectivo era o de fazer
coincidir o nível de escolaridade às competências profissionais desenvolvidas
ao longo da denominada “vida activa” por parte de um adulto ou, no caso dos
jovens, retomar a via do ensino anteriormente interrompido, ou conforme é comum
dizer-se, combater o abandono escolar precoce.
Desta forma e de acordo com o
“espirito” desta iniciativa, aprofundar-se-iam as qualificações profissionais
de onde resultaria, presume-se, uma melhor situação laboral para quem já se
encontrava nessa situação, ou a abertura de novos horizontes a quem pretendesse
aceder a uma determinada profissão.
Com a mudança de Governo, e
tal como normalmente sucede nestas ocasiões, (quase) tudo aquilo que surge como
rotulado de iniciativa do executivo anterior é, sem distinção do respectivo
mérito, questionado e colocada em causa na sua própria continuidade ou, pelo
menos, o modelo até aí seguido.
Esta realidade acentua-se de
forma ainda mais evidente em momentos de crise profunda, em que importa -
dizem-nos - reduzir a despesa do Estado.
Normalmente sucede que a
melhor forma de justificar qualquer decisão radical relativamente a estas
iniciativas é o de promover a sua descredibilização, o que se veio a verificar
no caso vertente das ditas “Novas Oportunidades”.
Neste capítulo, as principais
críticas produzidas no contexto atrás assinalado foi o do custo excessivo do
programa face aos resultados práticos do mesmo mas, ao mesmo tempo, a
transmissão de uma convicção que esta iniciativa teria poder detrás das
propaladas boas intenções, uma descarada manifestação de “facilitismo” escolar.
A referida convicção partia
da percepção que desta iniciativa não resultaria qualquer mais-valia
curricular, configurando unicamente uma “bandeira” propagandística pela qual se
pretendia afirmar ao país e aos nossos parceiros que, pelo menos no que se
refere ao ensino, Portugal se situaria ao nível dos países com mais
qualificações curriculares.
Em causa estaria a
“facilidade” com que a equivalência ao nível de ensino pré-universitário seria
obtida, na medida em que não seria exigido ao formando uma base de ensino
minimamente comparável com aquele que normalmente é exigido a quem segue o
percurso estudantil dito “normal”.
Associado a esta “desconfiança”
tem igualmente vindo a ser questionada a actuação das instituições do
denominado ensino recorrente, em função das notas médias obtidas nas diferentes
disciplinas que são, com uma estranha frequência, normalmente consideravelmente
superiores às obtidas nos estabelecimentos de ensino regular.
Sendo o propósito e objectivo
do ensino recorrente semelhante ao que emanava das Novas Oportunidades, parece
resultar desta indisfarçável diferença de tratamentos uma aparente perversão no
que se refere ao princípio de igualdade de tratamento que, curiosamente, quer
as Novas Oportunidades quer o ensino recorrente pretenderiam fomentar.
Mais recentemente e à luz do
“caso” envolvendo o Ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, o foco da
atenção mediática, para além das circunstâncias especificas envolventes a este
processo em particular, trouxe a público uma certa lei das Equivalências que,
no essencial, permite abreviar o tempo e duração de um curso superior, em
função das competências profissionais apresentadas pelos candidatos a
licenciados nessas circunstâncias.
O resumo que entendo dever
extrair-se destas três situações concretas é o desenvolvimento de uma certa
noção de desvalorização do papel da escola e da universidade na formação dos
indivíduos, na vertente da sua personalidade e, fundamentalmente, no domínio do
Conhecimento.
E é precisamente este último
aspecto que entendo podermos estar a “caminhar” a passos largos para uma
profunda relativização do seu alcance e importância, como se para se chegar a
um determinado fim se pudesse simplesmente ignorar os meios.
Não estão sequer em causa as
eventuais competências profissionais de quem aspira a ter o 12º ano ou mesmo um
curso superior. Está, isso sim, em causa a importância dos “caminhos” do
Conhecimento como forma de complementar essas mesmas competências.
Numa época em que tanto se
apregoa a importância da competitividade das empresas não é certamente possível
nem aceitável a promoção de uma “política” de facilitismo que a própria lei
parece institucionalizar, através dos mecanismos como os atrás referidos.
Bem pelo contrário, o atalhar
de caminho no percurso de ensino, básico ou superior, será certamente o
“veículo” para uma redução da capacidade de nos dotarmos das “ferramentas”
necessárias a uma independência perante aqueles que optaram por investir na sua
própria formação ao mesmo tempo que o faziam nas respectivas carreiras. Assim
vão as cousas.
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