A história está repleta de epítetos que
apresentam um sufixo comum que os associam uma qualquer tendência social,
económica ou religioso.
O sufixo “ismo” a que me refiro, designa mais
exatamente os seguidores de tais correntes e teve sempre ao longo dos tempos
uma maior ou menor dimensão consoante a amplitude do pensamento a que se
encontra necessariamente associado.
A política, naturalmente, não“fugiu” nunca a este
rótulo para a posteridade mas, como não podia deixar de ser, apresentar
particularidades que a caracterizam de forma diferenciada das demais.
É bem verdade que, na sua essência, não divergem
significativamente das demais, na medida em que se encontram intimamente
direcionadas para grandes linhas da filosofia política, destacando-se em
particular o Socialismo e o Comunismo, mas também o Liberalismo, o
Conservadorismo, o Fascismo, entre outros.
Também na política sempre se verificou a
tendência para acrescentar um prefixo às palavras a que se havia acrescentado
um sufixo, que tem normalmente o significado de conferir aos respectivos
seguidores uma linha de pensamento que apresenta algumas derivações face ao
pensamento inicial.
O tal prefixo “neo” – que remete para a palavra novo
- acaba por introduzir, a meu ver, algum sentimento de desorientação nos seus
potenciais seguidores na medida em que passa a competir aos respectivos lideres
demonstrar adequadamente o motivo pelo qual são adeptos de uma determinada
corrente de pensamento mas não exactamente da mesma forma.
Ou seja, em bom rigor, explicar qual é a
“novidade” subjacente a este novo entendimento – ou leitura – da corrente
política que constitui a sua própria genética.
Dessa forma passou a ser parte integrante do
léxico comum a utilização de referências ao
“Neo-Liberalismo”,“Neo-Conservadorismo”, etc.
De igual modo o sufixo “ismo” foi igualmente
objecto de sinalização em referências que remetiam directamente para pessoas
individualmente consideradas, destacando-se nesse particular o
famoso“Marxismo-Leninismo”.
Neste particular o mundo político apresenta uma
proficuidade assinalável uma vez que a associação atrás referida passou a ser
usada de forma tão recorrente que, como seria de esperar, se banalizou.
Dessa forma qualquer corrente interna de um
partido político passou ela própria a ser merecedora do “famoso”sufixo,
situação que normalmente é particularmente “visível” no momento da mudança de
liderança sendo independente das vitórias – ou ausência das mesmas –do líder
anterior ou da capacidade – ou falta dela – do novo líder.
No fundo, basta associar um conjunto de
militantes à linha de orientação política de um líder passado, presente ou até
futuro para se passar ter “direito” a uma espécie de perfilhação do respectivo
pensamento.
Este tipo de “lógica” parece ter voltado agora ao
de cima no Partido Socialista no qual surgem vincadas – e mesmo extremadas – as
posições de quem se revia na linha política do Eng. José Sócrates e nas da
actual liderença do Dr. António José Seguro.
Ora, aos olhos dos portugueses tudo isto parece,
no mínimo, estranho.
Isto é, mal se percebe como é que um partido
saído de uma derrota eleitoral que deu a maioria parlamentar aos seus
principais “concorrentes” políticos da direita se “entretém” – aparentemente – a
gerir questões de natureza interna que fundamentalmente a (quase) ninguém
interessam – pelo menos fora do partido – quando deveriam procurar aglomerar as
réstias de unidade que subsistem a qualquer derrota, no sentido de demonstrar à
Sociedade que no futuro poderão novamente contar com eles.
Nada disso sucede, parece que afinal, qual cão
que lambe as feridas, os males de que padece o Partido Socialista continuam bem
vivos e sem perspectiva de cura à vista.
E porquê? Porque a história sempre nos ensinou
que mesmo um líder pode mais facilmente “sobreviver” na memória colectiva
independentemente dos seus erros de governação ou de liderança (veja-se o caso
das correntes ligadas a lideres ditatoriais) do que a um líder fraco.
E essa parece ser a fórmula explosiva
internamente no Partido Socialista, ou seja, parece ser mais razoável manter a
associação ao líder anterior independentemente do descrédito actual do mesmo do
que à nova liderança, simplesmente porque esta revela uma (nada) surpreendente
falta de capacidade aglutinadora, exactamente a situação oposta à que se
verificava anteriormente.
No meio disto tudo, e sem que se perceba
precisamente porquê, circulam aqueles que se mantêm fielmente alinhados com o
“Socratismo” e os demais que discretamente vão acentuando a desconfiança sobre
a capacidade do “Segurismo” poder constituir uma alternativa ao actual Governo,
tudo isto com a preciosa “ajuda” de um conjunto de comentadores televisivos que
vai desenhando semanalmente a realidade política à medida dos respectivos
interesses.
À distância, o Governo e os partidos que o
sustentam vão acompanhando este desfasamento da sua principal “ameaça”como uma
garantia de poder levar por diante as actuais políticas de austeridade sem o
“transtorno” de uma oposição verdadeiramente digna desse nome.
Quando o Partido Socialista“resolver” acordar
deste torpor talvez venha então a constatar uma nova realidade, aquela que
torna evidente que a distância que o separa dos partidos do poder é já maior do
que aquele que o separa dos partidos mais à esquerda. Talvez se chame a isto
neo-realidade. Assim vão as cousas.
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