Um dos elementos da “troika” – o FMI –
mostrou-se “preocupado” com a elevada taxa de desemprego em Portugal e, mais se
adianta, não parecem dispor de qualquer mecanismo para a contrariar.
Existe nesta equação uma verdadeira sensação de
estranheza pela aparente incapacidade em lidar com tal situação uma vez que nem
a mesma se pode considerar como “novidade” nem tão pouco poderá algum dia
entender-se como não expectável.
O argumento de que este fenómeno possa não ter
paralelo com situações de natureza semelhante no passado ou no presente é
insustentável e, claro está, indefensável.
É-o por uma simples constatação dos factos, uma
vez que, em caso algum, até à data alguma vez sucedeu que um país intervencionado
não tenha sofrido um incremento da respectiva taxa de desemprego.
Não querendo ir mais longe no tempo bastará
para o efeito verificar o que se passou na Argentina, na Islândia, na Irlanda
ou na Grécia para se perceber que este efeito “em cadeia” é uma das
consequências da referida intervenção externa.
A razão porque tal acontece é que a “fórmula”
do FMI não assenta em momento algum numa perspectiva de crescimento do emprego.
Assenta, isso sim, numa perspectiva de implementação
de políticas de austeridade que visam reduzir ao menor valor possível o papel
do Estado na economia e da dívida pública situação que, em termos genéricos, não contém em si qualquer erro de perspectiva.
Por seu turno o Estado – preso aos compromissos
assumidos – inicia normalmente dois processos internamente no sentido da
redução da despesa pública e no aumento da respectiva receita.
E é precisamente por aqui que o problema ganha
força.
O Estado é, quase por inerência, incapaz de se
auto-governar e, por isso, mesmo não se afigura como viável a possibilidade de
uma “cura de emagrecimento” pela restruturação da função pública e do seu
sector empresarial.
Como tal não é possível então corta-se onde
menos se devia cortar, isto é, nos benefícios sociais, na saúde e na educação
sem deixar de passar pela justiça ou, como alguns o designam, no conceito de
Estado Social (ou o que resta dele).
A consequência bifurcada desta situação, como
não poderia deixar de ser, é o aumento da "factura" suportada pelos cidadãos quando têm de recorrer a serviços que a Constituição designa de tendencialmente
gratuitos mas que parecem “caminhar” em sentido precisamente contrário.
Ao mesmo tempo que tal se vislumbra não existem
sinais evidentes de redução da despesa pública em sectores onde seria forçoso
adoptar uma política reformista e, consequência de tal facto, os números da execução
orçamental do 1º trimestre indiciam um crescimento da despesa pública em
valores nada despiciendos.
Se do lado da despesa é este o famigerado
“cenário” do lado da receita parece não haver melhor cenário, pela “simples”
razão de que, tal como alguns economistas (e não só) alertaram em devido tempo,
a capacidade de esforço dos cidadãos ao aumento de impostos tem – como quase
tudo na vida – os seus limites.
Ora, aparentemente, tal limite foi de facto
ultrapassado e por isso mesmo verifica-se a realidade inversa à expectável,
isto é, não só a receita fiscal não aumenta como em concreto até se reduz e,
diga-se, reduz-se ao ponto de poder contrarias as famosas “metas” do governo em
termos de deficit orçamental.
Também aqui a explicação para este facto não
requer a intervenção de um qualquer prémio Nobel.
A diminuição do poder de compra das famílias –
pelo aumento dos custos, redução de benefícios e aumento dos impostos – tem
como consequência imediata a contracção no consumo da qual resulta o aumento
generalizado de falências/insolvências uma vez que as empresas deixam de
conseguir escoar/vender os seus produtos.
Como há um menor consumo e menos empresas a
pagar impostos é consequência natural que o Estado receba menos impostos,
surgindo igualmente com especial fulgor a “famosa” economia paralela que
parecia ter "desaparecido" da ementa dos portugueses mas que agora, segundo
consta, voltou em grande força, até porque “velhos hábitos” dificilmente se
perdem.
Mas se, por um lado, reduz a sua colecta de
impostos, por outro aumenta as suas responsabilidades perante o número crescente de
desempregados que emergem das referidas falências/insolvências.
Ou seja, não só não consegue aumentar a sua
receita como ainda vê a sua despesa crescer.
Qual foi então a parte desta equação que o
Governo e os “senhores” da “troika” não conseguiam prever que viesse a
acontecer?
O cenário é dramático e sem perspectiva de um
final feliz, ainda que ele só visse a ocorrer daqui a largos anos, e tem como
consequência a necessidade recorrente de novas políticas de austeridade que se
somam às anteriores e que ao invés de resolverem o problema apenas o agravam de
forma eventualmente insanável.
A imagem daquilo que será provavelmente o
“fundo do poço” parece agora personificado na Grécia que, entre as suas próprias
responsabilidades, a acção reiterada dos mercados agravando sistematicamente as
suas condições de financiamento e a catadupa de medidas de austeridade chegou agora
ao seu “beco sem saída”, situação a que os gregos parecem agora responder
dizendo - em forma de voto em partidos radicais – que chegou a hora da rotura.
E essa rotura surge porque, sejam quais forem as
suas consequências, dificilmente constituirão um pior cenário do que aquele que
actualmente enfrentam apesar do “auxilio” externo, o que não deixa de
constituir o pior dos receios para os restantes parceiros europeus que correm
sérios riscos de ver esfumar a possibilidade de recuperação por parte dos
bancos dos seus créditos sobre o estado Grego.
A ironia de tudo isto é evidente.
Os gregos passaram sem aviso prévio, do papel
de “criminoso” para o papel de “vítima”, mas de uma “vítima” que agora controla
o seu “carcereiro”, consciente que não há formas boas ou más de morrer, porque
no final de contas o resultado prático é precisamente o mesmo.
Pelos vistos, e a avaliar pela reacção do FMI e
de alguns Estados-Membros da EU, toda esta situação decorreu – tal como aparentemente
se verifica em Portugal – de uma incapacidade de previsão antecipada das
consequências dos planos de resgate financeiro que eles próprios impuseram.
Em resposta a isso parecem agora todos “interessados”
em resolver o “problema grego” e a salvar o Euro e para isso, pasme-se, falam sistematicamente
da necessidade de implementar políticas de crescimento e de emprego no espaço
da UE.
Talvez seja então este o momento de Portugal
perceber que os remédios que não curam doenças não são necessários de tomar e,
porventura, aproveitando a mudança de paradigma europeu, perceber que o caminho
até aqui seguido não fomenta nem o crescimento económico nem o emprego. Antes
que seja tarde demais. Assim vão as cousas.
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