No filme “A Árvore da Vida” o realizador Terrence Malick aborda o triptico epistemológico da vida: De onde vimos, quem somos e para onde vamos.
A forma brilhante e comovente como o faz não procura em si mesmo dar resposta a qualquer destas questões, mas tão somente colocar o espectador perante uma reflexão interna sobre as mesmas, começando pela mais dramática das formas possiveis, a morte de um filho.
Do ponto de vista filosófico admito que a primeira e a última das questões primordias sejam aquelas que mais “desafios” colocam a quem se apreste a pensar sobre as mesmas.
No entanto a minha perspectiva assenta manifestamente na questão central sobre aquilo que somos.
É neste momento em que todos os nossos actos têm uma consequência directa independentemente da sua maior ou menor amplitude.
A capacidade de ditar o nosso próprio futuro acontece unicamente nesta fase.
Tanto a fase prévia e a fase seguinte caiem directamente nos campos insondáveis da natureza ou com especial relevo no turbilhão das crenças religiosas.
Em qualquer dos casos não é já o “nosso” momento.
A morte de alguém que muito se ama – independentemente das circunstância em que tal acontece - é porventura o momento de maior reflexão interna que qualquer pessoa pode aspirar a ter sobre si mesma.
É neste momento único e insondável que todas dúvidas sobre os nossos comportamentos e atitudes anteriores a essa morte vêm ao de cima.
As nossas acções e omissões são colocadas numa perspectiva que nunca poderiam ter sido postas anteriormente e, no essencial, resumem-se a uma única questão: estarei eu próprio em paz?
Não há provavelmente uma resposta racional para esta questão porque ela se coloca normalmente em momentos extremos quando precisamente a capacidade de reflexão é menor.
Então como proceder?
De uma única maneira: acautelar sempre e em qualquer momento que a resposta a essa questão seja dada no dia-a-dia, quando nada o necessite de justificar.
É tudo fazer para que (quase) nada fique por dizer ou (quase) nada fique por fazer relativamente áqueles que nos rodeiam e de quem gostamos.
É também procurar nada fazer ou dizer de que nos possamos arrepender mais tarde e esse momento chegará sempre e no seu expoente máximo no momento em que nos sentirmos precisamente mais fragilizados.
Conservo a convicção que a morte é isso mesmo: o fim de um ciclo, por isso mesmo todo o sentido desta reflexão ganha para mim um especial relevo embora convicto que também eu não estou – nem estarei nunca - em condições de responder à referida questão.
Há o antes e o depois e tal como em “A Árvore da Vida” há pelo meio um “filme” no qual somos todos “actores” e se bem sabemos que ele nunca terá um final feliz, pelo menos que possamos olhar para traz e dizer: Obrigado por tudo. Assim vão as cousas.
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Avó Adelina 13.04.1922 - 15.07.2011 |
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