domingo, 3 de julho de 2011

Filosofia nada barata

Nunca como agora a expressão “viram-se gregos” fez tanto sentido.

Tal acontece porque a mesma, cujo significado se perde no tempo, nos remete para a situação actual do povo grego.

Acredito convictamente que qualquer natural deste que é um dos países mais importantes da história e cultura do mundo ocidental se questione como é que se chegou a uma situação como a presente.

Em bom rigor parte da resposta pode e deve ser dada pelos próprios, na medida em que é mais ou menos evidente que estão a pagar a factura de anos a fío de políticas económicas desastrosas num país que pouco mais produz que as suas próprias condições naturais para o turismo.

Ou seja, é de esperar que ao fim de muitos anos a gastar mais do que aquilo que se produzia alguém haveria de apresentar a conta ou, como veio a acontecer, passar a impor as regras com que se haverão de governar.

Ora para tal não falta quem se disponha a dar uma “mãozinha” com sabor a presente envenenado, e esse alguém é a própria União Europeia através do “famoso” fundo de estabilização financeira, o BCE mas também as gentes do FMI.

E de facto é isso que tem sucedido e em grandes tranches para “ajudar” a Grécia a voltar a entrar no eixos ou, no minimo, impedir que se afaste tanto deles que algum dia venha a fazer o caminho inverso áquele que trilhou em 1981 e fique na história como o primeiro país a saír da moeda única e, quiçá mais tarde, da própria União Europeia.

O problema é que em paralelo com toda esta vontade de “colaborar” existe uma realidade sem rosto que joga em contra-ciclo com com a esta “solidariedade” e que nada mais faz do que afastar a Grécia do seu objectivo principal.

Essa realidade são os tristemente famosos Mercados que têm literalmente arrastado os gregos para um nível inferior ao do lixo.

Ao fazerem-no lançam um anátema de prováveis incumpridores, obrigado o governo grego a sucessivos novos planos de austeridade de modo a procurar corrigir o desvio das suas contas públicas, mas igualmente pela necessidade de demonstrar a referida capacidade de pagar aquilo o que deve ou seja nesta altura provalmente mais do que já devia no inicio desta triste história.

A juntar a isto tudo constata-se que não existe a minima capacidade de entendimento interno no sentido de se poder “caminhar” num mesmo sentido, que não é mais nem menos do que o da sua própria salvação.

Cansados do protagonismo involuntário de qualquer novo plano de austeridade os gregos acumulam greves gerais, instabilidade social e uma preocupante incapacidade de união dos principais partidos que só tem sido amenizado pela existência de uma maioria absoluta parlamentar do partído do Governo.
No meio disto tudo temos visto e ouvido muitas das personalidades que se têm pronunciado sobre este mesmo tempo comparando a situação grega com a portuguesa.

Por mais que se queira evitar o assunto e a comparação que lhe está subjacente a verdade é que não podemos fugir ao mais do evidente paralelismo com a situação que actualmente se vive em Portugal.

Não podemos negar as evidências como se fosse mera coincidência a sucessão de planos de austeridade, a redução constante do rating da república e das suas principais instituições financeiras, o aumento galopante dos juros da dívida soberana e, mais recentemente, a necessidade de intervenção desse triunvirato a que se convencionou chamar de “troika”.

Outra das prováveis comparações é aquela a partir do qual os respectivos governos insistem em afirmar que toda esta austeridade é necessária e que o último dos planos será isso mesmo o último, até se constatar que não chega.

Invoca-se o discurso da “verdade” como se dessa forma tudo se tornasse menos dificil.

A verdade, contudo, é algo que ninguém conhece na sua plenitude nem é certamente aquela que é prometida durante as campanhas eleitorais.

Neste período há verdades que são escondidas por detras de omissões, daquilo que não se diz, como se a omissão não fosse ela própria uma forma de mentira.

Podemos continuar a afirmar que a Portugal não está na mesma situação da Grécia.

Contudo, os gregos poderão razoavelmente afirmar que Portugal está agora num ponto onde eles próprios já estiveram, resta saber se os iremos continuar a acompanhar até a um provável precipicio. Assim vão as cousas. 

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