Recentemente, dei por mim a fazer contas de cabeça tentando perceber em quantos actos
eleitorais já haveria participado, tendo por base um pressuposto bastante
relevante para mim próprio de que, desde que estou legalmente habilitado para
tal, nunca por uma só vez deixei de exercer o meu direito de voto, passando para
terceiros a “responsabilidade” de decidir por mim.
Não
faço, portanto, parte daquele conjunto de cidadãos que, embora legitimamente, se
abstém de votar, “transformando” os resultados eleitorais dessa mesma abstenção
num dos falsos vencedores das noites eleitorais, como de se um falso partido
igualmente se tratasse.
Efectuados
uns cálculos relativamente simplistas cheguei à conclusão que já tive ocasião
de deixar a minha cruz em boletim de voto por 21 vezes, distribuída por 5
presidenciais, 7 eleições legislativas, 6 autárquicas a que devo acrescer 3
consultas populares, vulgo referendos.
O
resultado dessas votações não é relevante para o efeito pois, como não podia
deixar de ser, a soma de todos esses actos eleitorais resulta necessariamente na
expressão práctica da democracia em que nalgumas vezes se ganha e noutras se
perde, facto que também democraticamente tenho de aceitar e respeitar.
A
parte curiosa de todo este período que, contas feitas abrange um período de
cerca de 23 anos, é que nunca pelo meio fui “chamado” a pronunciar-me num outro
exercício de votação a que se convencionou chamar de “sondagens”, sejam elas de
forma remota ou aquelas que pela proximidade com os locais da votação se
apelidam de “à boca da urna”.
As
razões para tal “omissão” não são perfeitamente claras, podendo situar-se entre
a mera casualidade, a ausência de perfil ou mesmo por não dispor de “residência
com telefone fixo” (curioso predicado na época das comunicações móveis) para
servir de amostra para esta espécie de antecipação teórica dos resultados
eleitorais se os mesmos se realizassem numa data distinta e por vezes distante
daquela em que efectivamente decorrerá o acto eleitoral.
Não
obstante, o facto de não “pertencer” ao núcleo de cidadãos que, pelos vistos,
define o sentido geral de voto da restante população, não determina que o meu interesse sobre o acompanhamento das sondagens seja menosprezado,
expressão não deve ser confundida com a relativização das respectivas
projecções.
Ora
acontece que, entre os dias 24 e o dia 31 de Julho deste mesmo ano, três
entidades distintas (Eurosondagem, Pitagórica e Univ. Católica) efectuaram,
cada uma delas, uma sondagem que veio posteriormente a ser divulgada junto dos
órgãos de comunicação social com as quais cada uma delas trabalha directamente.
A
avaliar pelos resultados de cada uma das referidas sondagens sobra a dúvida se
as mesmas foram realizadas no mesmo país, dando por certo que não o foram
certamente pelos mesmos critérios, pois seria previsível que se tal tivesse
acontencido e tendo por base que o período da amostra é precisamente o mesmo não deveria (ou não seria suposto) que a divergência de resultados fosse tão
notória, a saber:
Eurosondagem
25 a 31 de Julho
|
Pitagórica
24 a 28 de Julho
|
Univ. Católica
27 a 29 de Julho
|
PS: 37,4%
PSD: 24,4%
CDU: 12,5%
CDS-PP: 7,7%
BE: 7,5 %
|
PS: 34,6%
PSD: 24,1%
CDU: 13,1%
BE: 8,7%
CDS-PP: 8,1%
|
PS: 35%
PSD: 32%
CDU: 11%
BE: 7%
CDS-PP: 3%
|
Independentemente
do mesmo sentido de voto num único partido que resultaria vencedor das próximas
eleições se as mesmas se “realizassem hoje”, a verdade é que essa mesma
victória parece mais ou menos categórica de sondagem para sondagem.
Entre
os 13 pontos percentuais da Eurosondagem e o empate técnico da Univ. Católica
parece não haver exactamente qualquer motivo absolutamente coerente que
justifique tamanha disparidade, ainda que aparentemente possa ser justificada pelo
“desvio” das intenções de voto no CDS-PP que, uma vez mais de acordo com a
Univ. Católica, quase “desaparece” do mapa eleitoral com uma percentagem que não
tem paralelo em qualquer das outras sondagens.
O
“problema” da disparidade entre as diversas sondagens não se coloca, contudo,
unicamente na diferença entre as respectivas percentagens mas sobretudo na
interpretação que a partir das mesmas cada um lhes queira dar, sendo que
raramente é efectuado um exercício comparativo entre elas pelos diferentes
órgãos de comunicação social
Ora,
é precisamente por aqui que reside o busílis da questão uma vez que se a
sondagem poderá constituir uma forma de condicionamento da opinião pública
relativamente ao “comportamento” dos partidos, esse condicionamento será ainda
maior se essa valoração partir do livre arbítrio de um órgão noticioso ou mesmo dos próprios
partidos políticos.
Fica,
portanto, a dúvida se não será este precisamente o objectivo destas sondagens
permitirem sobre elas mesmas a interpretação que cada um quiser tirar,
eliminando quase totalmente o suposto (e pressuposto) rigor da amostra
populacional que lhe está subjacente.
Contudo,
aquilo que as pessoas por detrás desta ausência de rigor parecem ignorar é que,
por causa disso mesmo, a credibilidade das sondagens tem vindo a ser sistematicamente
questionada, porventura até ao momento em que se tornarão de facto
irrelevantes.
Pela
minha parte continuarei a entender que verdadeiramente a sondagem que conta é
aquela que remete para pleno exercício de um dos mais sublimes momentos em
democracia, isto é, aquele em que cada um de nós escolhe aqueles que – bem ou
mal – nos hão-de representar. Assim vão as cousas.
Post Scriptum
Para uma análise mais aprofundada sobre o tema das sondagens recomendo vivamente o blog do Dr. Pedro Magalhães (http://www.pedro-magalhaes.org/)
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