domingo, 18 de agosto de 2013

NS / NR


Recentemente, dei por mim a fazer contas de cabeça tentando perceber em quantos actos eleitorais já haveria participado, tendo por base um pressuposto bastante relevante para mim próprio de que, desde que estou legalmente habilitado para tal, nunca por uma só vez deixei de exercer o meu direito de voto, passando para terceiros a “responsabilidade” de decidir por mim.

Não faço, portanto, parte daquele conjunto de cidadãos que, embora legitimamente, se abstém de votar, “transformando” os resultados eleitorais dessa mesma abstenção num dos falsos vencedores das noites eleitorais, como de se um falso partido igualmente se tratasse.

Efectuados uns cálculos relativamente simplistas cheguei à conclusão que já tive ocasião de deixar a minha cruz em boletim de voto por 21 vezes, distribuída por 5 presidenciais, 7 eleições legislativas, 6 autárquicas a que devo acrescer 3 consultas populares, vulgo referendos.

O resultado dessas votações não é relevante para o efeito pois, como não podia deixar de ser, a soma de todos esses actos eleitorais resulta necessariamente na expressão práctica da democracia em que nalgumas vezes se ganha e noutras se perde, facto que também democraticamente tenho de aceitar e respeitar.

A parte curiosa de todo este período que, contas feitas abrange um período de cerca de 23 anos, é que nunca pelo meio fui “chamado” a pronunciar-me num outro exercício de votação a que se convencionou chamar de “sondagens”, sejam elas de forma remota ou aquelas que pela proximidade com os locais da votação se apelidam de “à boca da urna”.

As razões para tal “omissão” não são perfeitamente claras, podendo situar-se entre a mera casualidade, a ausência de perfil ou mesmo por não dispor de “residência com telefone fixo” (curioso predicado na época das comunicações móveis) para servir de amostra para esta espécie de antecipação teórica dos resultados eleitorais se os mesmos se realizassem numa data distinta e por vezes distante daquela em que efectivamente decorrerá o acto eleitoral.

Não obstante, o facto de não “pertencer” ao núcleo de cidadãos que, pelos vistos, define o sentido geral de voto da restante população, não determina que o meu interesse sobre o acompanhamento das sondagens seja menosprezado, expressão não deve ser confundida com a relativização das respectivas projecções.

Ora acontece que, entre os dias 24 e o dia 31 de Julho deste mesmo ano, três entidades distintas (Eurosondagem, Pitagórica e Univ. Católica) efectuaram, cada uma delas, uma sondagem que veio posteriormente a ser divulgada junto dos órgãos de comunicação social com as quais cada uma delas trabalha directamente.

A avaliar pelos resultados de cada uma das referidas sondagens sobra a dúvida se as mesmas foram realizadas no mesmo país, dando por certo que não o foram certamente pelos mesmos critérios, pois seria previsível que se tal tivesse acontencido e tendo por base que o período da amostra é precisamente o mesmo não deveria (ou não seria suposto) que a divergência de resultados fosse tão notória, a saber:

Eurosondagem
25 a 31 de Julho
Pitagórica
24 a 28 de Julho
Univ. Católica
27 a 29 de Julho
PS: 37,4%
PSD: 24,4%
CDU: 12,5%
CDS-PP: 7,7%
BE: 7,5 %
PS: 34,6%
PSD: 24,1%
CDU: 13,1%
BE: 8,7%
CDS-PP: 8,1%
PS: 35%
PSD: 32%
CDU: 11%
BE: 7%
CDS-PP: 3%

Independentemente do mesmo sentido de voto num único partido que resultaria vencedor das próximas eleições se as mesmas se “realizassem hoje”, a verdade é que essa mesma victória parece mais ou menos categórica de sondagem para sondagem.

Entre os 13 pontos percentuais da Eurosondagem e o empate técnico da Univ. Católica parece não haver exactamente qualquer motivo absolutamente coerente que justifique tamanha disparidade, ainda que aparentemente possa ser justificada pelo “desvio” das intenções de voto no CDS-PP que, uma vez mais de acordo com a Univ. Católica, quase “desaparece” do mapa eleitoral com uma percentagem que não tem paralelo em qualquer das outras sondagens.

O “problema” da disparidade entre as diversas sondagens não se coloca, contudo, unicamente na diferença entre as respectivas percentagens mas sobretudo na interpretação que a partir das mesmas cada um lhes queira dar, sendo que raramente é efectuado um exercício comparativo entre elas pelos diferentes órgãos de comunicação social

Ora, é precisamente por aqui que reside o busílis da questão uma vez que se a sondagem poderá constituir uma forma de condicionamento da opinião pública relativamente ao “comportamento” dos partidos, esse condicionamento será ainda maior se essa valoração partir do livre arbítrio de um órgão noticioso ou mesmo dos próprios partidos políticos.

Fica, portanto, a dúvida se não será este precisamente o objectivo destas sondagens permitirem sobre elas mesmas a interpretação que cada um quiser tirar, eliminando quase totalmente o suposto (e pressuposto) rigor da amostra populacional que lhe está subjacente.

Contudo, aquilo que as pessoas por detrás desta ausência de rigor parecem ignorar é que, por causa disso mesmo, a credibilidade das sondagens tem vindo a ser sistematicamente questionada, porventura até ao momento em que se tornarão de facto irrelevantes.

Pela minha parte continuarei a entender que verdadeiramente a sondagem que conta é aquela que remete para pleno exercício de um dos mais sublimes momentos em democracia, isto é, aquele em que cada um de nós escolhe aqueles que – bem ou mal – nos hão-de representar. Assim vão as cousas.

Post Scriptum 

Para uma análise mais aprofundada sobre o tema das sondagens recomendo vivamente o blog do Dr. Pedro Magalhães (http://www.pedro-magalhaes.org/)

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