domingo, 4 de agosto de 2013

A vida e tudo o mais

Por motivos pessoais que não relevam circunstancialmente para o tema que me proponho desenvolver, tive necessidade de, nos últimos anos, tornar-me um “frequentador” - com menor assiduidade do que devia, diga-se – de alguns lares de 3ª idade.

Estes locais, por vezes vistos com alguma desconfiança, constituem o último reduto ou habitação para muitas pessoas que neles entrando com maior ou menor saúde, raramente deles saem, por mais que nos custe admiti-lo, com vida.

Estou em crer que cada um de nos terá sempre, num determinado momento da sua vida, a forte convicção que, naquilo de que cada um depender, jamais tomará uma decisão que fundamentalmente implica a deslocação de um familiar do seu ambiente natural para um espaço que lhe é totalmente estranho.

Este espaço já não será jamais aquele local onde esse mesmo familiar fará novas amizades (uma espécie de segunda escola) ou sequer terá condições para partilhar as suas experiências de vida.

Nada disso, simplesmente parece impossível que tal suceda tal é o distanciamento físico e mental que separa as pessoas nestas condições, mesmo que possam estar quase sempre sentados lado a lado.

Estão ainda connosco, mas o seu tempo já não é deste mundo.

Por isso mesmo a convicção a que aludi anteriormente colide demasiadas vezes com uma realidade incontornável, isto é, a incapacidade de alguém assegurar autonomamente o seu bem-estar e saúde, passando a necessitar de um acompanhamento que – atrevo-me a dizê lo – nem às crianças é tão indispensável.

Nessa altura, torna-se imperioso tomar aquela que será sempre uma das decisões mais difíceis que alguém terá te tomar durante a vida, mas também aquela que terá de ser a mais consciente.

Uma decisão em nome de quem já não está em condições de tomar decisões: a decisão sobre qual a melhor opção sobre aqueles que são mais próximos, sabendo que tal opção nos pode objectivamente afastar fisicamente dessas mesmas pessoas.

A um exercício de uma espécie de demagogia interior a partir do qual se pretende fazer crer que uma tal opção representa apenas e só a forma suprema de egoísmo junta-se normalmente uma quase irracional percepção de que a situação concreta que carece da referida opção poderá ainda ser revertida, como se de uma mera constipação passageira de tratasse.

Infelizmente, contudo, a realidade ultrapassa quase sempre as nossas próprias convicções.

Talvez seja a esta contradição aquilo a que chamamos destino.

Frente ao espelho fixo-me nos cabelos brancos que progressivamente se vão substituindo àqueles de outra cor que me têm acompanhado toda a vida e percebo que algo muda e vai continuar a mudar.

Resta-me esperar mas sobretudo desejar, que a sorte e a fortuna não permitam para mim próprio um tal destino. Assim vão as cousas.

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