Por motivos pessoais que
não relevam circunstancialmente para o tema que me proponho desenvolver, tive
necessidade de, nos últimos anos, tornar-me um “frequentador” - com menor
assiduidade do que devia, diga-se – de alguns lares de 3ª idade.
Estes locais, por vezes
vistos com alguma desconfiança, constituem o último reduto ou habitação para
muitas pessoas que neles entrando com maior ou menor saúde, raramente deles
saem, por mais que nos custe admiti-lo, com vida.
Estou em crer que cada
um de nos terá sempre, num determinado momento da sua vida, a forte convicção
que, naquilo de que cada um depender, jamais tomará uma decisão que
fundamentalmente implica a deslocação de um familiar do seu ambiente natural
para um espaço que lhe é totalmente estranho.
Este espaço já não será
jamais aquele local onde esse mesmo familiar fará novas amizades (uma espécie
de segunda escola) ou sequer terá condições para partilhar as suas experiências
de vida.
Nada disso, simplesmente
parece impossível que tal suceda tal é o distanciamento físico e mental que
separa as pessoas nestas condições, mesmo que possam estar quase sempre
sentados lado a lado.
Estão ainda connosco,
mas o seu tempo já não é deste mundo.
Por isso mesmo a
convicção a que aludi anteriormente colide demasiadas vezes com uma realidade
incontornável, isto é, a incapacidade de alguém assegurar autonomamente o seu
bem-estar e saúde, passando a necessitar de um acompanhamento que – atrevo-me a dizê lo – nem às crianças é tão indispensável.
Nessa altura, torna-se
imperioso tomar aquela que será sempre uma das decisões mais difíceis que
alguém terá te tomar durante a vida, mas também aquela que terá de ser a mais
consciente.
Uma decisão em nome de
quem já não está em condições de tomar decisões: a decisão sobre qual a melhor
opção sobre aqueles que são mais próximos, sabendo que tal opção nos pode
objectivamente afastar fisicamente dessas mesmas pessoas.
A um exercício de uma
espécie de demagogia interior a partir do qual se pretende fazer crer que uma
tal opção representa apenas e só a forma suprema de egoísmo junta-se
normalmente uma quase irracional percepção de que a situação concreta que
carece da referida opção poderá ainda ser revertida, como se de uma mera
constipação passageira de tratasse.
Infelizmente, contudo, a
realidade ultrapassa quase sempre as nossas próprias convicções.
Talvez seja a esta
contradição aquilo a que chamamos destino.
Frente ao espelho
fixo-me nos cabelos brancos que progressivamente se vão substituindo àqueles de
outra cor que me têm acompanhado toda a vida e percebo que algo muda e vai
continuar a mudar.
Resta-me esperar mas
sobretudo desejar, que a sorte e a fortuna não permitam para mim próprio um tal
destino. Assim vão as cousas.
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