O
projecto da União Europeia comemora, por esta altura, o seu primeiro quarto de
século de vida e, conforme é praxe nestas ocasiões, tem sido tempo de fazer o
balanço deste período que, no essencial, corresponde a hiato temporal
normalmente associado às mudanças geracionais, ou seja e em teoria, aqueles que
1988 acabavam de nascer estarão, 25 anos depois, a ser eles próprios
progenitores da geração que se lhes há-de seguir.
Contudo,
este hiato é também o período normalmente convencionado para permitir uma
análise histórica dos factos com o necessário distanciamento em relação ao
momento da sua criação, presumindo-se que qualquer avaliação desse género, isto
é, em “cima do acontecimento”, impede uma leitura isenta e sobretudo com a
amplitude necessária ao rigor que se presume nortear a actividade dos
historiadores.
Não
deixa, portanto, de ser curioso que, utilizando a referência a uma mudança
geracional que dá o mote à presente dissertação, se fale actualmente numa
“geração perdida”.
Devo
referir, contudo, que esta conclusão parece precipitada porque, em bom rigor,
pretendendo efectuar uma espécie de resumo analítico dos últimos 25 anos da
história do “velho continente” acaba por deixar-se influenciar pelos eventos
que, nos últimos 5 anos, têm arrastado a Europa Comunitária e o “projecto
Europeu” para uma crise sem precedentes e, pior que tudo, sem perspectivas de
futuro.
É como se
para esta “nova” fase fosse necessário aguardar por um período equivalente ao
que agora se “comemora” para o poder avaliar convenientemente, situação para a
qual quem se encarrega de efectuar uma tal avaliação não parece manifestamente
interessante.
E, no
entanto, seria importante que tal sucedesse, sobretudo no que se refere a
Portugal, nomeadamente procurando perceber onde nos encontrávamos enquanto
membro de pleno direito da CEE e onde nos encontramos actualmente.
A melhor
forma de “responder” à primeira questão é possível, curiosamente, através de um
mero exercício de dirigir o nosso olhar para algo que nos rodeia e, dessa
forma, verificar que desde as grandes marcas de distribuição, às estações
privadas de televisão ou centros comerciais de referência estão, também elas
próprias quase todas a festejar os seus primeiros 25 anos de existência em
Portugal.
Parecendo
uma mera coincidência, a verdade é que não o é.
Portugal,
simplesmente, não “existia” do ponto de vista de uma economia de mercado sem
“fronteiras”, e essa “nova vida” só passou a existir a partir do momento em que
passou a fazer parte do mercado único europeu, do qual o sistema da moeda única
seria o corolário lógico.
Os
portugueses passaram então a poder ter acesso a bens e serviços que não só não
existiam anteriormente por estas paragens e que apenas poderiam aceder saindo
do próprio país, algo que não estava exactamente ao dispor do cidadão comum.
Este
imenso espaço de progressão, que terá algum paralelo com a situação vivida
pelos países de Leste após a queda do muro de Berlim, proporcionou um vasto
campo de possibilidades a quem entendeu investir em Portugal nessa ocasião.
O
“problema” é que Portugal não “entra” na União Europeia em condições de
igualdade com a generalidade dos seus parceiros europeus pois se há algo que a
data “festiva” da EU permite actualmente perceber com clareza é que o país que
havia beneficiado em larga escala de fundos estruturais precisamente para poder
estar no comboio da frente quando a união de concretizasse é precisamente o
país que mais desaproveitou essa mesma oportunidade.
Ou seja,
quando a Portugal é pedido que caminhe à mesma velocidade dos seus parceiros
parece querer ignorar-se que para chegar ao ponto de partida dos demais
Portugal ainda teria de correr bastante.
Se a este
“pequeno” detalhe se juntar uma tendência quase crónica para um excessivo
endividamento e uma propensão endémica para baixos níveis de produtividade (que
passou a ser associado a um consumo excessivo) facilmente se perceberia que não
seriam precisos 25 anos para se chegar à conclusão que aquele que não parte ao
mesmo tempo dos outros dificilmente lhes apanhará o passo no futuro.
Infelizmente,
assim foi e o mais que se tem visto é que a qualquer sinal de crise Portugal
parece funcionar como uma espécie de doente crónico que, fruto das suas
fragilidades estruturais, mais depressa agrava os seus sintomas do que lhes
ganha alguma espécie de resistência.
Acontece
que, nos termos que correm, qualquer sintoma de doença parece condenado a
transformar-se numa pandemia e, talvez por analogia a esta imagética medicinal,
se fale agora como nunca nos “riscos de contágio”.
Ora,
estes riscos só são explicáveis com a dimensão que actualmente têm porque a
União Europeia ao invés de se ter tornado na maior potência económica mundial
gerou para si própria uma incapacidade de agir como tal, de onde resulta que a
sua maior força – a moeda única – é hoje provavelmente a sua maior fraqueza
sendo, cada vez com maior frequência, questionada a sua utilidade.
A União
Europeia actual está em contraciclo com os seus pressupostos iniciais, com
sucessivos anos de estagnação ou recessão, com um desemprego descontrolado e
com uma moeda em sucessiva perda face às suas principais “concorrentes”.
A
aparente supremacia de um dos seus membros – a Alemanha – face aos demais acentua
a desconfiança sobre quem serão de facto os principais responsáveis pela actual
crise e quem são aqueles que precisamente mais ganham com ela.
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