domingo, 11 de agosto de 2013

Grandes esperanças


O projecto da União Europeia comemora, por esta altura, o seu primeiro quarto de século de vida e, conforme é praxe nestas ocasiões, tem sido tempo de fazer o balanço deste período que, no essencial, corresponde a hiato temporal normalmente associado às mudanças geracionais, ou seja e em teoria, aqueles que 1988 acabavam de nascer estarão, 25 anos depois, a ser eles próprios progenitores da geração que se lhes há-de seguir.

Contudo, este hiato é também o período normalmente convencionado para permitir uma análise histórica dos factos com o necessário distanciamento em relação ao momento da sua criação, presumindo-se que qualquer avaliação desse género, isto é, em “cima do acontecimento”, impede uma leitura isenta e sobretudo com a amplitude necessária ao rigor que se presume nortear a actividade dos historiadores.

Não deixa, portanto, de ser curioso que, utilizando a referência a uma mudança geracional que dá o mote à presente dissertação, se fale actualmente numa “geração perdida”.

Devo referir, contudo, que esta conclusão parece precipitada porque, em bom rigor, pretendendo efectuar uma espécie de resumo analítico dos últimos 25 anos da história do “velho continente” acaba por deixar-se influenciar pelos eventos que, nos últimos 5 anos, têm arrastado a Europa Comunitária e o “projecto Europeu” para uma crise sem precedentes e, pior que tudo, sem perspectivas de futuro.

É como se para esta “nova” fase fosse necessário aguardar por um período equivalente ao que agora se “comemora” para o poder avaliar convenientemente, situação para a qual quem se encarrega de efectuar uma tal avaliação não parece manifestamente interessante.

E, no entanto, seria importante que tal sucedesse, sobretudo no que se refere a Portugal, nomeadamente procurando perceber onde nos encontrávamos enquanto membro de pleno direito da CEE e onde nos encontramos actualmente.

A melhor forma de “responder” à primeira questão é possível, curiosamente, através de um mero exercício de dirigir o nosso olhar para algo que nos rodeia e, dessa forma, verificar que desde as grandes marcas de distribuição, às estações privadas de televisão ou centros comerciais de referência estão, também elas próprias quase todas a festejar os seus primeiros 25 anos de existência em Portugal.

Parecendo uma mera coincidência, a verdade é que não o é.

Portugal, simplesmente, não “existia” do ponto de vista de uma economia de mercado sem “fronteiras”, e essa “nova vida” só passou a existir a partir do momento em que passou a fazer parte do mercado único europeu, do qual o sistema da moeda única seria o corolário lógico.

Os portugueses passaram então a poder ter acesso a bens e serviços que não só não existiam anteriormente por estas paragens e que apenas poderiam aceder saindo do próprio país, algo que não estava exactamente ao dispor do cidadão comum.

Este imenso espaço de progressão, que terá algum paralelo com a situação vivida pelos países de Leste após a queda do muro de Berlim, proporcionou um vasto campo de possibilidades a quem entendeu investir em Portugal nessa ocasião.

O “problema” é que Portugal não “entra” na União Europeia em condições de igualdade com a generalidade dos seus parceiros europeus pois se há algo que a data “festiva” da EU permite actualmente perceber com clareza é que o país que havia beneficiado em larga escala de fundos estruturais precisamente para poder estar no comboio da frente quando a união de concretizasse é precisamente o país que mais desaproveitou essa mesma oportunidade.

Ou seja, quando a Portugal é pedido que caminhe à mesma velocidade dos seus parceiros parece querer ignorar-se que para chegar ao ponto de partida dos demais Portugal ainda teria de correr bastante.

Se a este “pequeno” detalhe se juntar uma tendência quase crónica para um excessivo endividamento e uma propensão endémica para baixos níveis de produtividade (que passou a ser associado a um consumo excessivo) facilmente se perceberia que não seriam precisos 25 anos para se chegar à conclusão que aquele que não parte ao mesmo tempo dos outros dificilmente lhes apanhará o passo no futuro.

Infelizmente, assim foi e o mais que se tem visto é que a qualquer sinal de crise Portugal parece funcionar como uma espécie de doente crónico que, fruto das suas fragilidades estruturais, mais depressa agrava os seus sintomas do que lhes ganha alguma espécie de resistência.

Acontece que, nos termos que correm, qualquer sintoma de doença parece condenado a transformar-se numa pandemia e, talvez por analogia a esta imagética medicinal, se fale agora como nunca nos “riscos de contágio”.

Ora, estes riscos só são explicáveis com a dimensão que actualmente têm porque a União Europeia ao invés de se ter tornado na maior potência económica mundial gerou para si própria uma incapacidade de agir como tal, de onde resulta que a sua maior força – a moeda única – é hoje provavelmente a sua maior fraqueza sendo, cada vez com maior frequência, questionada a sua utilidade.

A União Europeia actual está em contraciclo com os seus pressupostos iniciais, com sucessivos anos de estagnação ou recessão, com um desemprego descontrolado e com uma moeda em sucessiva perda face às suas principais “concorrentes”.

A aparente supremacia de um dos seus membros – a Alemanha – face aos demais acentua a desconfiança sobre quem serão de facto os principais responsáveis pela actual crise e quem são aqueles que precisamente mais ganham com ela.

Por isso mesmo atrevo-me a dizer que se a história da União Europeia nos últimos 25 anos está agora a ser escrita fica por saber se daqui a 25 anos sobrará algo desse projecto para escrever. Assim vão as cousas.

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