domingo, 7 de outubro de 2012

Your highness

Confesso não saber se são os dados do nosso dia-a-dia que constituem o enredo perfeito para qualquer filme ou se, no essencial, não somos efectivamente “actores involuntários de uma pelicula de enredo universal, cujo argumento é continuamente escrito e reescrito.

Feito este introito de teor meta-filosófico creio, cada vez mais, estarmos mais próximos da segunda versão pois, invariavelmente surge no meu firmamento o título ligado à 7ª arte ou uma frase-chave do mesmo para descrever o teor de cada uma das minhas dissertações semanais, como se de argumentos se tratassem.
Desta vez, apetece-me recordar um momento do filme-comédia de Mel Brooks intitulado “Uma Louca História do Mundo” no qual o actor, interpretando o papel de Rei de França diz, reiteradamente e olhando para a câmara, que “It’s good being the King”.
Quem teve ocasião de ver este filme conhece, nesta altura, o contexto em que a frase é proferida, contudo, e para quem o viu e já não se recorda ou não o viu de todo, é necessário explicar que a mesma é a súmula do comportamento do Rei, que nessa condição reina sem qualquer impedimento à sua actuação ou sem aparentar qualquer preocupação relativamente à situação de pobreza do seu reino.
Aonde é que nos leva então esta analogia? Leva-nos precisamente aos eventos que de forma reiterada têm associado alguns comportamentos de algumas casas reais europeias a momentos de pouca – ou nenhuma – dignidade real.
Se outra importância estes factos não tivessem, têm, pelo menos, o condão de fazer reflectir uma parte da população relativamente ao papel de um monarca no contexto da Sociedade actual.
Tendo abordado anteriormente esta questão na perspectiva da legitimidade (ou falta) dela do regime monárquico numa Sociedade democrática onde os seus representantes são legitimados nas suas funções por via eleitoral, pretendo agora analisar o seu papel nas Sociedades em que se integram, salvaguardadas as distâncias que separam algumas monarquias em diferentes zonas do Globo.
Cingir-me-ei, desta forma, às monarquias europeias, as quais, curiosamente ou tal vez não, excedem largamente as que se podem encontrar nos demais continentes, tendo em conta que, por exemplo, a Casa Real Britânica se estende territorialmente muito para além do espaço físico da sua ilha de origem, o Reino Unido.
Feita a necessária introspecção a conclusão a que estou porventura “condenado” a chegar é a da ausência de uma participação efectiva dos monarcas na condução dos destinos dos seus “súbditos” situação que resulta em grande parte da ausência de poderes constitucionalmente relevantes que permitam uma actuação autónoma ao nível legislativo ou executivo.
Em resumo, não dispõem de poderes inerentes à condução dos destinos do país que “governam” e esta constatação transforma-os em meras figuras “decorativas” e, sinceramente, não verifico outra forma de os perspectivar.
Alheados dos referidos poderes poder-se-ia pensar que as Casas Reais em geral e os seus monarcas em particular teriam um papel que estaria para além de tais poderes “terrenos” ainda que aquém dos poderes “divinos”.
Esse papel seria o de guardião da soberania e integridade do estado, uma espécie de incorporação numa só entidade de toda ética, moral e dos e dos bons costumes, em quem os cidadãos se poderiam rever e confiar durante todo o período que durasse o respectivo reinado.
O “problema” é que por debaixo da coroa existe um ser humano igual em muito aspectos a tantos outros e a mão que segura o bastão real não tem um alcance mais longo do que qualquer outra mesmo que pertença a alguém que se encontre sentado num trono.
Por isso mesmo à falta de um papel de relevo na condução dos destinos do país boa parte das Casas Reais europeias dedica-se a exercitar a sua imensa margem de tempo livre e, qual personagem do filme que encima este texto, a actuar sem qualquer responsabilidade pública, a que acresce normalmente uma disponibilidade financeira muito acima do cidadão dito comum.
O resultado é, como não podia deixar, de ser a tendência para o comportamento extravagante, aquele que acaba por corresponder ao estilo de vida que normalmente qualquer pessoa gostaria de ter, mas para o qual não tem condições, fruto da ausência do “famoso” sangue azul.
O que temos visto e ouvido nos últimos tempos é que, até neste capítulo, os tais comportamentos estão muito aquém do que seria desejável.
Prova disso é a recorrente necessidade de recurso ao sempre adequado - em qualquer circunstância – pedido de perdão, o qual parece resumir todo um resquício de humildade  
Não basta, contudo, pedir perdão.
É necessário agir como presuntivos “modelos” das suas próprias Sociedades, as mesmas que nos dias de hoje enfrentam problemas sociais e financeiros bem concretos, bem à margem da ostentação que continua a ser exibida por diversos membros da realeza, situação que, diz-nos a História desta ancestral classe social., dificilmente sucederá. Assim vão as cousas

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