O Dr. Paulo Portas referiu recentemente que não andava "desaparecido" mas sim empenhado na execução de "tarefas" ministeriais.
Contudo, e por mais que procure convencer-nos - e provavelmente a ele próprio - de que essa é a razão para a diminuição do seu habitual protagonismo, a verdade é que o Dr. Paulo Portas e o partido por ele liderado desempenham neste Governo o papel de parceiro útil, despojado de qualquer acção directa sobre as principais linhas de orientação do mesmo.
Para trás ficaram as principais "bandeiras" eleitorais do PP, nomeadamente aquelas que directamente se relacionavam com a Administração Interna, a Justiça, a Agricultura e a Segurança Social, curiosamente todos aqueles sectores especialmente talhados para as "características" do Dr. Paulo Portas, por remeterem directamente para a genética populista do seu partido, senão vejamos:
A ideia mil vezes defendida da associação de uma tipologia de criminalidade à ausência de uma menor preocupação com as questões da segurança interna aliada a uma cada vez menos envergonhada tendência para associar esse crescimento aos movimentos emergentes da emigração - bem ao estilo de um certo nacionalismo - parece não ter tido qualquer seguimento na actual legislatura, tendo a respectiva pasta sido entregue a um ministro do partido do Governo, certamente bem mais focalizado na monitorização de um possível resvalar da estabilidade social em resultado da severidade das políticas de austeridade.
Intimamente ligada à questão da Segurança Interna surgia também a politica de Justiça, ou seja, a gestão de um sector que define a organização e as regras processuais daqueles que em última análise julgam (ou deviam julgar) e punem (ou deviam punir) os responsáveis materiais pela propalada ausência de segurança.
Todos se lembrarão das críticas levantadas pelo Dr. Paulo Portas ao Código de Processo Penal, preocupados com uma certa tendência para a descriminalização, preocupação essa que não parece ter transitado para o topo da agenda da nova ministra, ela própria, diga-se, oriunda da social-democracia.
Um outro terreno fértil nas intervenções públicas do Dr. Paulo Portas foi, ao longo dos anos de oposição, a pasta da agricultura - ou lavoura como carinhosamente a ela se referia - surgindo normalmente trajado com o seu chapéu e casaco a rigor, o que nos remetia imediatamente para um certo imaginário rural português.
Certamente por esse mesmo passado em defesa do sector primário foi atribuído ao PP a pasta da Agricultura a uma ministra bastante jovem, com a difícil tarefa de voltar a colocar na ementa dos portugueses aquilo que a nossa terra nos dá.
O problema é que o "romantismo" com que a agricultura sempre foi vista pelo Dr. Paulo Portas esbarra frontalmente com a realidade de um país que foi sucessivamente destruindo este sector - e, inclusivamente, financiando essa mesma destruição - ao sabor das politicas europeias para a agricultura, em que manifestamente o peso relativo daqueles que mais produzem esmaga literalmente os países menor dimensão.
E por isso mesmo o ministério da Agricultura é apenas uma espécie de lembrança vazia de um país que transitou bruscamente de uma acentuada ruralidade para uma sociedade quase exclusivamente confinada às cidades em prejuízo de quase todo o interior do país.
A última bandeira do Dr. Paulo Portas centrava-se na área da Segurança Social, quase sempre vista como a "muleta" de um conjunto relativamente vasto de pessoas que no essencial vivem à custa do Estado seja pela sua condição de desempregado ou por via de alguma forma de rendimento não directamente relacionada com o trabalho, apontando-se normalmente o caso do Rendimento Social de Inserção.
Os reformados seriam então os principais prejudicados por um "sistema" que supostamente protegia mais aqueles que não trabalhavam (mesmo que sem culpa própria) do que aqueles que tinham trabalhado uma vida inteira.
Apesar de também aqui a pasta ministerial ter ido parar a um ministro da área centrista, a respectiva acção ficou desde logo limitada, na medida em que o sector do Trabalho foi deslocado para o seu colega da Economia e, com isso, esvaziou em termos práticos a acção política deste ministério.
Por fim, ao Dr. Paulo Portas "calhou-lhe" a pasta dos Negócios Estrangeiros, cuja relevância política é hoje em dia cada vez menos e, sobretudo, sem qualquer peso na gestão dos principais temas do país, quase todos eles virados para a Economia e Finanças Públicas.
Contudo, a verdade incontornável que no essencial justifica o "afastamento" do Dr. Paulo Portas é que a lógica populista com que se movimentava nos temas da sua eleição são hoje em dia eles próprios secundarizados no contexto da realidade actual e à luz dessa mesma realidade parece não haver mais espaço para tais estados de espírito. Assim vão as cousas.
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