Se alguém, na vida política portuguesa actual pode queixar-se daquilo que vulgarmente se apelidou de “pesada herança” será certamente o Dr. António José Seguro.
Ora se em vez de uma de tais heranças se puder falar de três, então mais facilmente se perceberá a complexidade da natureza da actuação presente e futura do actual Secretário-Geral do PS.
A primeira das “heranças” prende-se com o “património” que constitui a referida herança, após 6 anos de governação do Eng. José Sócrates e muito em concreto a forma como o mesmo deixou o poder após uma derrota eleitoral clara.
Mas esse mesmo “património” é também a consciência de que existe uma clara associação entre a situação actual de crise do país às politicas seguidas pelo seu antecessor e, em concreto, a eventual falta de resposta atempada aos sinais de uma crise internacional, cujos contornos não eram certamente tão nítidos como actualmente.
Ou seja, aos olhos de uma parte da população do Governo do Eng. Sócrates é o grande responsável pelo “der stand der dinge” actual, sendo apenas variável a medida - maior ou menor – da referida responsabilidade.
O segundo legado ao Dr. António José Seguro é, e provavelmente será sempre, a de demonstrar a sua ruptura com o passado e, mais importante de tudo explicar em que medida é que se apresenta com alternativa a esse mesmo passado e necessariamente ao presente.
Ao mesmo tempo em que tal sucede o Dr. António José Seguro tem igualmente que lidar com um povo em estado de dormência ou quase anestesia, aparentemente convictos da inevitabilidade de tudo aquilo que lhes tem vindo a ser imposto e ainda estará para vir, é a cura necessária para os males de que vem padecendo será esta e não qualquer outra.
O problema é que o partido do Dr. António José Seguro encontra-se “preso” ou “amarrado” (consoante as perspectivas) a um vínculo que o seu antecessor firmou com uma certa “troika” que, no essencial, condiciona não apenas a sua acção política em tudo o que vá contra aquilo a que o país se comprometeu mas também a sua própria possibilidade de acção crítica sobre o teor desse mesmo compromisso.
Resta-lhe procurar explorar convenientemente e convincentemente tudo aquilo que vá para além do referido acordo, e com o qual o seu partido não se encontra por definição vinculado, se bem que tal fronteira seja hoje em dia suficientemente ténue para se perceber os respectivos limites.
Por fim o Dr. António José Seguro herdou igualmente uma bancada parlamentar que não é “a sua”, repleta de figuras que transitam em grande parte do executivo anterior e que parecem diariamente fazer um exercício de “passeio no arame” em que não se percebe se caiem para o lado da disciplina partidária ou para o lado de uma certa lógica de grupo dentro do próprio grupo, conforme ficou claro na recente iniciativa de suscitar a fiscalização sucessiva da constitucionalidade do orçamento de Estado para 2012.
No fundo, o Dr. António José Seguro encontra-se na pele de um treinador de uma equipa cujos jogadores não foram escolhidos por si, nem são aqueles que ele em grande parte escolheria, sendo que esse raciocínio é igualmente verdade no seu inverso.
Não bastará, desta forma, ao Dr. António José Seguro dominar o seu próprio partido ou garantir algumas “vitórias” casuísticas mas assegurar a visibilidade que lhe garanta por um lado a demarcação clara relativamente ao seu antecessor mas também, porventura ainda mais difícil, que se perceba em que medida é que a actual austeridade seria diferente (para menos, claro) se fosse ele e não o Dr. Passos Coelho o Primeiro-Ministro.
Infelizmente e tal como já referi em dissertações anteriores temo que não seja nem um nem outro os argumentos que poderão levar (eventualmente) um dia o Dr. António José Seguro ao cargo que pretende.
Esse motivo é aquele que resultará do maior ou menor grau de satisfação relativamente à actuação do actual governo ou de uma eventual desagregação da coligação que o suporta ao invés da igualmente maior ou menor convicção que um Governo liderado pelo Dr. António José Seguro seja efectivamente a alternativa desejada e desejável.
Parece-me pois demasiado evidente que é também neste falso pressuposto subjacente à rotatividade dos governos em Portugal que radica grande parte dos problemas que atravessamos. Assim vão as cousas.
Sem comentários:
Enviar um comentário