Certamente terá passado despercebido da atenção da generalidade da opinião pública o facto de uma agência de notação financeira – essas mesmas que andam tristemente nas “bocas do mundo” – ter aumentado o rating da Estónia.
A avaliar para tendência exacerbada do sentido descendente das principais agências não deixa de ser curioso tentar perceber o motivo pelo qual um quase incógnito pequeno estado do báltico anda em sentido contrário às principais economias mundiais.
Tal facto é ainda mais surpreendente porque, como é sabido, a Estónia é membro de pleno direito da UE, não parecendo portanto nada afectada com os acentuados sintomas de fragmentação que esta começa a exibir.
Este país, cuja independência é extremamente recente, é para mim próprio um mistério, e por isso mesmo permito-me analisar o contexto deste estado em particular no conjunto dos países da Europa de Leste que, em tempos não muito distantes, pertenciam à denominada “Cortina de Ferro” e faziam parte do Pacto de Varsóvia.
A realidade é que parece haver dois tipos de repercussões da actual crise nos países integrantes da UE.
Por um lado temos as “grandes potências” que parecem começar a perceber que não são imunes aos problemas dos denominados países periféricos e que o efeito de contágio tantas vezes relativizado é afinal mesmo para levar a sério.
Por outro lado temos os países que aderiram em último lugar à UE e, coincidência ou não, são quase todos eles o resultado de fragmentação das nações das quais emergiram (Jugoslávia e URSS) ou estiveram na penumbra de um estado totalitário subjugados por ditaduras durante décadas.
Verifica-se, estranhamento ou não, que são precisamente estes últimos que parecem imunizar-se contra os efeitos da crise ou, como no caso da Estónia, andam em contra-ciclo com a mesma.
As razões para tão surpreendente facto não são certamente fáceis de explicar nem resumiveis em tão breves linhas mas, no essencial, é minha convicção que o “segredo” estará sobretudo na sua capacidade de produzirem a sua própria riqueza, vulgo competitividade.
É certo que nos anos seguintes à queda do muro de Berlim verificou-se uma “fuga” em massa de muita actividade industrial para Leste à custa de uma mão-de-obra barata, certamente tão atractiva que permitia mesmo contemporizar com elevados níveis de corrupção e baixos níveis de qualificações em determinadas actividades.
A verdade é que rapidamente mesmos esses “pormenores” começaram a dissipar-se, observando-se uma crescente capacidade de resposta às grandes empresas que aí se começaram a instalar.
Não é menos verdade que reconhecidamente os sistemas de ensino na generalidade destes países era dos mais exigentes do mundo, facto do qual as suas populações sempre souberam tirar proveito quer internamente quer quando tiveram necessidade de emigrar em massa para o Ocidente.
Mesmo nessa ocasião é legitimo pensar que poucas pessoas no mundo inteiro teriam a capacidade de adaptação revelada por pessoas – muitas delas dotadas de cursos superiores – quando tiveram de optar por profissões que se colocam nos antípodas daquelas que estavam habituadas nos seus países de origem.
O mercado de leste é hoje um pólo atractivo de crescimento para muitas empresas e começa mesmo a verificar-se um movimento de emigração de Ocidente para Leste em busca de melhores oportunidades de trabalho.
Enquanto tal acontece o “coração” da Europa entrega-se à auto-flagelação ao sabor dos humores dos seus principais líderes, manifestamente incapazes de pensar na Europa como um todo mas apenas na gestão das suas próprias expectativas de reeleição.
O “sonho” de uma verdadeira União Económica e Monetária mas também Política e Social foge “entre os dedos” dos Europeus que começam a suspirar pelo regresso a um passado não muito distante em que cada país geria a sua “casa” e a sua moeda conforme bem lhe entendia.
A Europa começou a “federalizar-se” sem que todos os seus membros estejam inequivocamente alinhados com tal conceito e em que os principais Estados foram criando para eles próprios regimes de excepção às regras supostamente comuns.
A passividade com que tais compromissos foram sendo aceites só tem paralelo na incapacidade de perceber que a Europa não “joga” com as mesmas regras dos seus principais mercados concorrentes.
Enquanto a Europa luta por um controlo espartano das suas contas públicas os EUA alteram da forma que entendem a sua própria capacidade de endividamento, como que dizendo “se o problema é falta de dinheiro manda-se fazer mais”.
Aparentemente à margem de tudo isto países como a Estónia vão fazendo o seu percurso e por isso não será de estranhar que aqueles que aderiram em último lugar à UE venham a ser no futuro os primeiros a querer sair dela. Assim vão as cousas.
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