domingo, 10 de abril de 2011

A grande rede social

No passado dia 12 de Março, ou seja, há cerca de 1 mês atrás em alguns locais do país, mas especialmente na cidade de Lisboa, assistiu-se à auto-denominada manifestação da “geração à rasca”.

Nesse dia 200 mil pessoas (segundo consta) deram azo à sua insatisfação contra a actual situação do país, nomeadamente em tudo o que isso afecta o seu bem-estar e expectativas de futuro.

Fizeram-no, diga-se, de uma forma bastante ordeira (ao contrário do que se chegou a vaticinar) e, talvez ainda mais importante, à margem de algumas estruturas partidárias, que tudo fizeram para se colar ao evento, como se de um comício de apoio a eles próprios se tratasse.

Assumindo não ter participado neste evento, fiquei ainda assim na expectativa de perceber o que seria o “day after” desta manifestação, no fundo para tentar perceber as consequências da mesma mas, sobretudo, a sua substância.

Julgo que em ambos os casos, e mesmo admitindo que o espaço de 1 mês é manifestamente curto para essa avaliação, estamos perante um caso de fogo-fátuo, ou seja um evento de natureza transitória ou de pouca duração.

E porquê?

Não obstante o século XXI se encontrar ainda na sua “infância”, é liquido dizer-se que ele é desde já marcado (entre outras coisas) pelo surgimento de uma realidade que é absolutamente incontornável mesmo para aqueles que de forma obstinada ou empedernida continuam a querer fugir a ela.

Falo, naturalmente, das redes sociais.

Quem, como eu, aderiu (ainda que de forma moderada) a esta realidade sabe, minimamente, que nas redes sociais circulam com a mesma velocidade, e (quase) sem diferenciação de grau de importância, os temas mais sensiveis como os temas mais fúteis.

Em qualquer dos casos as pessoas são “convidadas” a participar nessa multiplicidade de eventos, a elas aderindo em função da sua maior ou menor afinidade a esse mesmo evento.

No meio disto tudo surgem eventos altamente mobilizadores, como foi o caso da manifestação da “geração à rasca”.

O problema é que existe algo de comum à esmagadoria maioria dos eventos surgidos no ambiente das redes sociais, e esse elemento comum é o do seu carácter fugaz, assente a ausência de uma base sólida que, mais do que justificar o seu surgimento, torna práticamente impossivel a sua manutenção.

No fundo o carácter espontâneo com que surge é precisamente aquele que determina o seu fim, inglóriamente substituido por qualquer outro evento sem qualquer conteúdo ou relevância.

Um evento como o da “geração à rasca” só poderia ter um seguimento se ele próprio adquirisse uma capacidade de se consubstaciar em algo, seja uma nova força partidária (e tanta falta nos faz) seja numa estrutura formal de movimento social que, mesmo usando a força “esmagadora” das redes sociais, pudesse “sobreviver” sem as tendências de que estas se alimentam.

Por outro lado entendo que este movimento da “geração à rasca” está imbutido, paradoxalmente, de um contra-senso relativamente à sua natureza.

Os filhos da democracia, ou seja, todos aqueles que são mais ou menos contemporâneos com o evento do 25 de Abril, terão ainda a viva recordação do que era este nosso país à pouco mais de 25 anos, nomeadamente ao nivel do seu desenvolvimento social.

Se é costume dizer-se que só se sente falta daquilo que alguma vez se teve, a verdade é que grande parte daquilo que hoje em dia é tido como um dado adquirido não estava disponível hà um quarto de século em Portugal.

Falo a título meramente exemplificativo de telemoveis, de dezenas de canais de televisão, as grandes superfícies, as grandes cadeias de alimentação, as viagens “low-cost”, computadores, lcd’s e todo o tipo de gadgets, redes sociais, isto é, um sem fim de comodidades que surgiram em força sobretudo na última década do século passado.

Mas se nada disto existia, outras coisas haviam e que bem se dispensavam como por exemplo uma inflacção acima dos 20%, um salário mínimo miserável, indices elevadissimos de trabalho infantil, um Serviço Nacional de Saúde incipiente, condições de trabalho muitas vezes deploráveis, entre muitas outras coisas que não escapam a quem viveu intensamente esses tempos.

Ou seja, mais do que suspirar pelos beneficios de um sociedade de consumo havia a necessidade emergente de lutar por condições de vida com dignidade.

No entanto a essa geração que tanto lutou para uma vida melhor não se lhe atribiu nenhum epíteto.

Nem precisava, porque o mérito dessa geração foi precisamente o do inconformismo, bem ao contrário do que parece suceder agora.

Perante a primeira dificuldade em conseguir “alimentar” a máquina do nosso próprio consumo, assumiu-se de forma passiva a atribuição de rotulos de geração “rasca” ou “à rasca”, sinal mais do que evidente de uma incapacidade de contrariar uma situação em que se caíu ao primeiro sinal de dificuldade.

Não é suposto que uma qualquer geração tenha de lutar pelas mesmas causas que a geração precedente (muito mal seria), mas entendo que existe uma noção comum entre ambas, ou seja, a necessidade de serem as próprias Pessoas a tomarem as rédeas do seu próprio destino e não esperar que sejam os outros a dita-lo. Assim vão as cousas. 

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