Sexta-feira passada ocorreu um sismo de proporções biblicas em Tóquio.
Nesse mesmo dia e em Portugal tivemos uma réplica de um abalo mais ou menos contínuo que vem afectando os portugueses em geral.
Falo do anunciado PEC IV, uma espécie de sequela de mau gosto de um modelo já esgotado e de fomos obrigados a ver os episódios anteriormentes, mesmo que contra a nossa vontade.
A corda acabou de esticar até (provavelmente) ao seu limite máximo.
Daqui em diante ou o pescoço parte ou o garrote terá de começar a aliviar.
Os portugueses estão numa encruzilhada semelhante a quem entrou num gigantesco labirinto e do qual não consegue saír e em que todas as portas disponiveis parecem conduzir a um lugar pior do que o anterior.
Fazendo uma leitura de 360º do ponto em que nos encontramos aquilo com que nos deparamos é mais ou menos o seguinte:
Um Governo uninominal que procura fazer-nos crer que tudo o que de mal que nos acontece é para nosso bem, justificando assim sucessivos novos Planos de Estabilidade e Crescimento, mesmo que estas duas últimas palavras tenham perdido há muito o seu significado prático.
Um Presidente da República que faz discursos de tomada de posse que poderiam facilmente ter sido escritos por um qualquer Francisco Louçâ ou um Manuel Carvalho da Silva da nossa praça, omitindo os necessários sinais de esperança, justamente por parte daquele que normalmente é o seu último bastião.
Um lider de oposição que sabendo que tem na prática o Governo nas mãos prefere esperar que a fruta caia de podre ao invés de ir ele próprio apanhá-la, sinal de uma indisfarçável incapacidade de transmitir a todos o que é que o próprio se propõe fazer para mudar o que manifestamente está mal.
Ouvimos os principais lideres europeus a elogiarem sucessivamente os “esforços” e a “coragem” do Governo português, sem que se perceba em termos práticos em que é que isso nos beneficia, pelo menos no imediato.
Aqueles que mais duvidam da nossa capacidade em vir um dia a pagar a nossa divida soberana – os omnipresentes “mercados” – são precisamente aqueles correm ávidamente aos leilões dessa mesma divida, onde nunca falta mais procura do que a própria ofertar.
A dipersão entre aqueles que advogam pela entrada do FMI e os que diabolizam esta instituição, sem que ninguém tenha o cuidado de explicar em que é que podemos beneficiar com a mesma ou em que medida é que podemos ficar ainda pior do que já estamos.
Umas agências de “rating” que decidem de forma unilateral quando é que um Estado vai à falência, mesmo que tenham sido estas mesmas agências a ignorar o que se passava em patéticas mega-empresas americanas.
O preço do petróleo que flutua (normalmente em sentido ascendente) porque são precisamente aqueles que controlam todas as suas fases (produção, refinação e distribuição) assim o determinam com base em pressupostos meramente especulativos.
Um movimento social que se diz “à rasca” que surge de forma tão expontânea como expontânea será a sua extinção, simplesmente pelo facto de que deste movimento não nasce qualquer alternativa ao que todos já conhecemos.
Uma estrutura sindical que vive ausente do mundo real, reclamando aquilo que já ninguém lhes pode dar.
Uma sociedade globalmente ambigua em que ao mesmo tempo em que somos confrontados com cada vez mais exemplos de pobreza somos “informados” que na última época natalícia se gastou mais do nunca e onde onde todos os anos se acrescentam novos membros às listas da Forbes.
O que mais se estranha é que as pessoas – nomeadamente muitos daqueles que o dito movimento “à rasca” – abdicaram nos últimos anos da sua única possibilidade de intervenção democráticamente aceite que é o de escolher os seus legitimos representantes pelo voto, seja ele de protesto ou não.
E quando assim é, tal como sucede actualmente, alguém nos dirá que iremos continuar alegremente a “apertar o cinto”, o que vai sendo possível porque infelizmente já nos vai faltando a carne. Assim vão as cousas.
domingo, 13 de março de 2011
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