Entendo que o "hype" que tem rodeado o Bloco de Esquerda devia ser objecto de um estudo sociológico ou mesmo psicologico.
Estou profundamente convencido que o que motiva o estranho fascínio por este partido em nada se deve ao conhecimento das suas linhas programaticas de governo que, no essencial, ninguém conhece.
A não ser assim teria de admitir que uma franja - já com alguma expressão - da nossa Sociedade se identifica com a ideologia Maoista, ou seja, baseada na filosofia de um ditador sanguinário, responsável pela morte de milhões de pessoas.
Poderá ser igualmente justificável pelo facto dos seus apoiantes se reverem em politicas tão modernas e com resultados bem conhecidos, como a colectivização dos meios de produção, nacionalização do aparelho produtivo ou ainda a reforma agrária.
Ou ainda por entenderem ser bom para Portugal a saída do "comboio europeu" para caminharmos de novo "orgulhosamente sós" (esta expressão anteriormente utilizada num contexto substancialmente diferente, adquire novamente toda a propriedade) ou procurando alinhamentos estratégicos com não se sabe bem quem.
No fundo não será nada disto que move o apoiante "tradicional" do Bloco de Esquerda, porventura demasiado novo para ter sequer a noção e interesse nas raízes históricas do partido que apoia, mas sim o facto de no essencial ele dispor de uma cupula dirigente com pessoas de gerações mais próximas dos seus proprios apoiantes e com os quais mais fácilmente se identifica.
Daqui decorre que o discurso do Bloco de Esquerda é cirurgico, ou seja, dirige-se essencialmente a uma geração que começa a dar os primeiros passos nesta coisa da Democracia, consubstanciado no direito de voto, e que por rebeldia ou empatia pessoal, opta por aquilo que considera radicalmente oposto aos partidos tradicionais.
Dificilmente o Bloco de Esquerda poderá dispor de outro campo de intervenção na medida em que - é certo e sabido - o restante eleitorado alinha tradicionalmente com outra(s) esquerda(s).
Por outro lado a acção politica do Bloco de Esquerda nunca se centra no seu programa de governo (se é que ele existe) mas sim na contestação casuistica dos casos que vão surgindo na Sociedade, "escolhendo" o lado que será sempre mais fácil defender ou atacar consoante as perspectivas.
No fundo ficamos sempre a saber, com uma veemência que parece transformar qualquer tema num assunto pessoal, o que é que o Bloco de Esquerda entende sobre uma determinada situação concreta mas, em bom rigor, será sempre mais dificil perceber como é que a resolveria se fosse governo.
É que aquilo que torna os politicos em pessoas mal-amadas é, não raras vezes, a necessidade de tomar decisões que com toda a certeza vão agradar a uns mas certamente desagradar a outros, e esse é um "drama" com que o Bloco de Esquerda não tem de lidar.
Existe um nome para isso: populismo. E isso, já todos nós infelizmente sabemos, é parte importante do estado a que as coisas chegaram. Assim vão as cousas.
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