Será, contudo, correcto falar-se de uma verdadeira censura numa sociedade global como a nossa? Estou absolutamente convencido que não.
Entendo, aliás, que existe um verdadeiro paradoxo na convicção de que exista alguma forma de condicionamento da liberdade de expressão. É que em regimes ditatoriais não é, tão pouco, possivel falar da propria censura.
Os exemplos na nossa Sociedade são suficientes para se perceber que quem mais fala de censura é quem mais usa da prorrogativa da liberdade de dizer o que bem lhe entender.
Ao ler as crónicas de Eduardo Cintra Torres ou de José Manuel Fernandes, ambos jornalistas do Público, quando falam sobre o dominio dos poderes politicos sobre os orgãos de comunicação social, questiono-me se não são eles próprios a demonstração do contrário do que pretendem afirmar.
Ouvimos de forma preocupada a rábula do jornalista Mário Crespo que "ouviu" alguém que tinha "ouvido" que o primeiro-ministro, durante um repasto, se referiu a ele proprio como um "problema" que era necessário "resolver" (versão, aliás desmentida pelo próprio director do canal de televisão, também ele presente no local da "conspiração). Uma semana depois surge nas estantes um novo livro baseado numa crónica supostamente "censurada", livro este sobre o qual o jornalista Mário Crespo refere que "preferia não ter escrito" (curioso livro este que é escrito, editado e publicado numa semana).
Ou, "last but not least", a cada vez mais do que evidente agenda politica do casal Moniz na TVI, assente numa produção de novos factos politicos - normalmente com o mesmo visado - apresentados a um ritmo vertiginoso, cujo estilo era, inclusivamente, contestado por destacadas referências da classe jornalistica. No fundo vale a lógica de que dois factos desgarrados se apresentados no mesmo contexto, formam um conjunto coerente (ao estilo Michael Moore em relação aos podres da América).
Então pergunto-me: não será então que estaremos perante um movimento inverso, tão comum noutros países, de condicionamento da acção politica devido a impulsos, mais ou menos corporativo, das linhas editoriais de alguns orgãos comunicação?
A ser verdade, não será esta também uma forma de censura? Não deve ser, porque na verdade podemos falar dela. Assim vão as cousas.
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