Volta e meia renova-se o discurso sobre o número de feriados e de pontes de que "beneficiam" os portugueses.
Recentemente tal voltou a acontecer.
Diz-se em abono da teoria que defende que em Portugal existe um numero exagerado de feriados que a nossa competitividade fica afectada pelo facto da produtividade das empresas se "ressentir" da ausência, ainda que por motivo justificado, dos respectivos trabalhadores.
A este facto junta-se o gozo das famosas "pontes" ou seja, aproveitar a proximidade de calendário do fim-de-semana e tirar um dia de férias, permitindo que, na prática, se possa em teoria descansar um pouco mais de tempo.
Ora, esta questão na forma como é trazida a público está eivada de uma profunda demagogia, começando exactamente pelas famosas "pontes".
Em bom rigor estes dias não correspondem a faltas ao trabalho mas sim a dias de férias que as pessoas, legitimamente, utilizam em seu beneficio nesses dias não o fazendo, portanto, noutra altura qualquer. O direito a esse dia já pré-existia, não corresponde a nenhum beneficio extraordinário.
Por outro lado falar-se em quebra de produtividade pelo facto de haverem muitos feriados é procurar esconder uma realidade que é a que deriva da falta de produtividade geral nos restantes dias. Entender-se o contrário é admitir que se porventura não houvesse qualquer feriado em Portugal estariamos hoje no "pelotão" da frente dos países europeus em termos de competitividade. Alguém acredita nisso?
É certamente muito mais fácil apontar o dedo ao problema do que resolve-lo e isso, no fundo é o que se passa em Portugal.
Acresce que o feriado em si até terá vantagens para o país, porque é certo que nesses dias a generalidade do comércio está aberto ao público e por isso mesmo as pessoas têm nesses dias a possibilidade de efectuar calmamente as suas compras, aumentando por essa via os niveis de consumo ou seja aumentando a produtividade das empresas que optam por abrir em dias feriados.
Mas não será também que o gozo de um feriado pode ter um efeito positivo para o proprio funcionário permitindo-lhe um dia extra de descanso? Do maior ou menor grau de descanso não poderão resultar beneficios ou prejuizos na produtividade da empresa? Parece-me evidente que sim.
Todos estes argumentos poderiam até nem ser necessários quando verificamos que, por exemplo, a Austria tem tantos feriados como Portugal. Em que é que ficamos? O que nos torna então diferentes deste país da Europa Central com um dos melhores niveis de vida do mundo?
O que nos torna diferentes (certamente entre muitos outros aspectos) é a forma como encaramos todos os restantes dias.
Talvez seja então a hora de largar a demagogia reinante e focalizarmo-nos no essencial, começando por exemplo por não se perder mais tempo com este assunto. Assim vão as cousas.
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