domingo, 22 de agosto de 2010

O homem e a sua cadeira

"O que este país precisava era de um novo Salazar". Esta é uma frase que, dita uma vez que seja, constitui um dos chavões mais hediondos que eu posso imaginar.

O país "comemora" os 40 anos da morte do ditador e porque de um ditador se tratava só consigo imaginar que alguém possa conceber tal raciocinio (se é que assim pode ser apelidado) que acima se expressa por um de dois motivos:

  • Por ignorância histórica ou,

  • Por se tratar de alguém que beneficiava directamente do regime.
Tirando isso não vislumbro qual seja o motivo pelo qual alguém nos dias de hoje possa desejar um clone da "outra senhora".

Portugal foi governado durante meio século por uma ditadura caduca, periodo durante o qual este país regrediu a olhos vistos da restante Europa Ocidental, nomeadamente no pós-guerra, quando todas os demais países floresciam no seio de regimes democráticos.

Um dos segredos de qualquer ditadura é cultivar a ignorância, porque quem não sabe ou não conhece não aprende a questionar.

Quem ousou faze-lo sofria as respectivas consequências sob a forma de prisão, tortura, deportação ou mesmo a morte. Para isso o Estado criou uma figura de autoridade denominada PIDE que, bem ao estilo das SS, garantia a manutenção de um "status quo" que impedia formalmente a contestação.

Sob o dominio das grandes familias criou-se a ideia, que passou até hoje, de uma economia de pleno emprego, feito à custa da total de total dependência, assente na ausência dos mais elementares direitos laborais ou mesmo de um regime de segurança social, cujas consequências andamos todos a pagar até agora.

Lançaram-nos, por fim, numa guerra cujo resultado final era expectável. A vontade de um povo não pode ser silenciada pela força e assim foi mais uma vez. Perdemos a guerra e comprometemos o futuro imediato dos novos países saidos da independência.

Criticamos a arrogância dos nossos lideres politicos, mas admitimos a subjugação total.

E então se nos causa repugnância - quase unânime - verificar a ausência de liberdade de expressão, de manifestação, da liberdade de voto noutros contextos geográficos, porque é que esta seria a solução dos nossos males?

Um dia ouvi um popular de Santa Comba Dão dizer, na sua genuinidade, que o único mal do Salazar foi "ter nascido". É nesta pureza e na nossa memória colectiva que devemos perspectivar o nosso presente mas sobretudo o nosso futuro. Assim vão as cousas.

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