domingo, 1 de agosto de 2010

A linha do horizonte

Todos os anos somos colocados perante algumas realidades que lamentavelmente parecemos não querer olhar friamente para as suas causas escudando-nos ao invés em justificativos que mais não fazem do que esconder a realidade e adiar a solução para os problemas.
Poderia escolher certamente um conjunto vasto de exemplos, mas irei referir-me apenas a três: os fogos de verão, os acidentes da estrada e as mortes nas praias.
Existem uma coincidência comum entre os exemplos escolhidos. Falo, naturalmente, da incuria.
Decorrente desta surge a incapacidade de aceitar esta mais do que óbvia realidade.
Tem sido demasiado fácil atribuir as culpas a factores exógenos a essa mesma incuria, seja pela argumento da falta de limpeza das matas, pela deficiência de construção das estradas ou ainda por falta de vigilância nas praias.
Mas serão mesmo estes os motivos?
A devastação provocada pelos fogos é em primeiro lugar provocado pelo acto negligente de atirar pontas de cigarro pela janela, pela falta de asseio durante os lanches, pelas queimadas fora de época e sem qualquer controlo das respectivas contiguidades ou, naturalmente, pelo crime de fogo posto. Tudo o resto é o lastro que a natureza precisa para o desastre.
Portugal tem hoje uma rede viária substancialmente melhor do que tinha à 10 ou 15 anos. Será um problema de concepção de curvas que levou à morte de 7 jovens numa viatura com capacidade para apenas 2 ocupantes? Será um problema de largura de estrada que leva a ultrapassagens por cima de traço continuo ou ainda que se circule com frequência acima do limite de velocidade, condução sob o efeito de alcool, etc, etc, etc? Morre-se mais em acidentes de viação em Portugal do que em certas guerras.
A época balnear tem periodos definidos em função do calendário das estações, nomeadamente aquela em que previligiadamente as pessoas acorrem à praia. Será possivel justificar que alguém que não sabe nadar entre no mar em praia não vigiada, com a bandeira vermelha ou com em plena digestão?
NÃO, mil vezes NÃO.
No entanto, o que parece óbvio para todos, continua ano após ano a repetir-se.
E porquê? Porque embora no fundo todos tenhamos a convicção de saber exactamente isto, achamos que não se trata de um problema nosso e, hipocritamente, alijamos as nossas próprias culpas sobre os outros.
Ou passamos a ter a capacidade de olhar mais além do que os nossos próprios pés ou continuaremos no futuro a falar do mesmo. Assim vão as cousas.

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