domingo, 10 de maio de 2020

Diários de uma pandemia - 8ª semana

A nova semana "prometia" novidades daquelas pelas quais as pessoas começam a tornar cada vez mais visíveis, nomeadamente a necessidade de sair do isolamento forçado e a retoma de alguma normalidade económica, ainda que nesse particular Portugal, talvez fazendo jus aos nossos seculares brandos costumes, nunca tenha sido um verdadeiro exemplo de modelo rigoroso de confinamento ao mesmo tempo que demonstrou ser um bom exemplo de cumprimento das regras impostas, talvez ainda resquícios de uma sociedade que durante quase 50 anos se "habituou" a cumprir ordens sem as questionar.

Levantado o estado de emergência passou-se ao estado de calamidade, típico tema para uma discussão sobre os limites legais da nova realidade, típico tema para discussão por parte daqueles que parecem ser especialistas em tudo e em nada, opinadores profissionais cá do burgo, legisladores de ocasião, a que as redes sociais e alguns orgãos de comunicação tratam de amplificar, como se de verdades absolutas se tratasse, logo num tema cujas variáveis ninguém parece dominar com exatidão.

Mas houve mudanças a vários níveis. Mais pessoas nas ruas, mais carros, algum negócio reaberto, tudo (ou quase) tudo cumprindo fielmente as indicações decorrentes do estado de calamidade ou então o reflexo do velho ditado de que o "gato escaldado de agua fria tem medo", ou seja, que volte tudo ao ponto anterior se o regresso à "normalidade" conduzir à anormalidade dos últimos dois meses, sendo difícil de prever se de um novo retrocesso alguma coisa restará para reabrir mais tarde.

Há por isso mesmo um apelo constante à consciência cívica, conceito genérico, que muitos tratam de ignorar e outros de interpretar de acordo com a conveniência do momento, tomando por certo que uma decisão de ir à praia ou passear numa qualquer marginal é o resultado de um pensamento único e que mais ninguém pensará o mesmo até ao momento em que se percebe que uma e outra estão cheios de iluminados.

O uso de máscaras passou a fazer parte do quotidiano, suprema ironia para quem sempre se "habituou" a olhar com ar de gozo para os cidadãos do extremo oriente que há muito implementaram esse uso, simplesmente não por obrigação mas por dever cívico.

Também na empresa as coisas mudaram, não com a convicção que se anunciava dias antes e posteriormente abandonada quando se conheceu que ao estado de calamidade correspondia também a obrigatoriedade de obrigatoriedade do teletrabalho, facto que gerou uma reunião de trabalho na segunda-feira, quase dois meses após a decisão forçada de "abandono" do posto de trabalho. Talvez por isso mesmo e para nos lembrarmos que ao teletrabalho correspondem diversos aspectos favoráveis, fomos brindados no regresso com um acidente na ponte e 3 horas de espera, algo que em bom rigor nem nos dias "normais" de trabalho sucede.

A esta reunião seguiu-se uma reprogramação das presenças na empresas e por isso mesmo lá estive de plantão durante a manhã nos dois dias seguintes, sem a certeza absoluta de por estar ali me sentiria mais produtivo do que fazendo precisamente o mesmo em casa, uma vez que também ali o distanciamento social ou dito de outra forma, os contactos com os colegas - a génese do trabalho em ambiente de escritório - é escasso e mesmo evitado.

Por casa também houve mudanças desde logo colocaram-se "mãos à obra" para limpar o sótão/escritório nomeadamente os muitos livros acumulados e o pó que tanto gosta de lhes fazer companhia. Desafiado para isso mesmo o J. iniciou a árdua tarefa de catalogar todos os livros.

Em tudo mais o resto foi um pouco mais da "nova rotina" a que se convencionou chamar de "nova normalidade", esperando sobretudo que na avaliação quinzenal o período de hibernação do vírus não venha a desmentir as boas intenções de Presidência e Governo. Porque de nada se aproveita de sermos pessimistas então que se concentre o optimismo no esforço para que tudo corra bem e sobretudo para que no próximo mês possamos gozar as férias agendadas antes da pandemia, espera-se que fora de casa.

Neste dia 10 de Maio haviam em Portugal 27581 casos confirmados e 1135 óbitos.



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