domingo, 12 de janeiro de 2014

O meu melhor

Quando (embora em momento indefinido) parte daquilo que para cada um de nós é um dado adquirido surgiu pela primeira vez ficou para sempre definido que não haveria conceito algum que não admitisse o seu oposto, podendo essa presunção ser entendida como a prova de que ambos são, dessa forma, admissíveis.

Por isso mesmo, é razoável admitir que o significado da palavra "sim" só fará sentido porque, pelo contrário, existe o "não" ou que o conceito de "dia" é que se conhece porque reconhecemos a "noite" e, terminando os singelos exemplos do que se pretende afirmar, também aquilo que é para uns "negativo" tem a sua antítese naquilo que para outros é "positivo".

Dessa forma e porque tive ocasião de enunciar anteriormente os factos que, a meu ver, constituíram aquilo que de pior pude registar - numa percepção estritamente pessoal - no ano transacto chegou agora a altura de dar significado à introdução da presente dissertação e fazer igual "exercício" relativamente aos factos e às pessoas que se destacaram nesse mesmo período, seguindo uma vez mais um escalonamento consoante o grau de importância.

10. Miguel Macedo

Durante o período dos fogos foi o único membro do governo que deu permanentemente "a cara" perante a catástrofe nacional que se ia constatando diariamente aos olhos dos portugueses. Até mesmo a Presidência da República terá optado por se "refugiar" numa estranha discrição que "caiu mal" na opinião pública "obrigando" a um posterior reconhecimento público da gravidade da situação. Não estava em causa a presunção de que por detrás dessas palavras houvesse uma forma de populismo mas o reconhecimento de que - em momentos como estes - por vezes a palavra é tudo e o ministro Miguel Macedo soube interpreta-lo correctamente.   

9. Django Libertado

Um grande filme de um cineasta que consegue, como ninguém, criar um estilo próprio que nunca se repete. Transforma a violência em comédia pelo recurso a um evidente exagero na forma como filma essa mesma violência. Mas o melhor continuam a ser os diálogos e a forma como consegue colocar qualquer actor - conhecido ou desconhecido - a "dar corpo" a interpretações memoráveis, com ou sem direito a Óscar. 

8. Empreendedorismo

Expressão que, pessoalmente, me é bastante cara, é porventura um dos reflexos mais positivos dos tempos actuais de crise, da qual resulta uma aposta numa outra dimensão da forma de cada um ver e analisar o seu próprio futuro e criar as condições necessárias de bem-estar (nas diferentes acepções da palavra). Tudo começa, afinal de contas, com uma predisposição para a mudança, seja numa perspectiva pessoal seja na óptica de ajudar os outros a caminhar para essa mudança. 

7. Rui Moreira

Num ápice o actual "inquilino" da segunda maior câmara municipal de país "conseguiu" dois feitos assinaláveis. Em primeiro lugar mostrou a força dos denominados movimentos independentes, ainda que no seu caso fosse indisfarçável o apoio do CDS e do próprio antecessor na câmara. Em segundo lugar "atirou" o "mais-do-que-provável" vencedor das eleições para um embaraçante terceiro lugar, impedindo que o Porto ficasse à mercê dos desvarios populistas de Luís Filipe Meneses. Após as eleições e sem maioria absoluta conseguiu aquilo que parece impossível a nível nacional: uma coligação com o segundo partido mais votado para governar em estabilidade.

6. Exportações

O "motor" mais visível de um dos pilares de uma possível recuperação económica ou, pelo menos, a causa para que os resultados das politicas de austeridade não tivessem sido ainda mais devastadoras. Portugal é, por assim dizer, uma "marca" vendável e a percepção de que o mundo é um mercado global parece ter sido, finalmente, entendido pelos empresários. A interiorização da necessidade de especialização e de aposta na qualidade é fundamental para a diferenciação perante outros competidores, e parece estar a ser conseguido. 

5. Desporto Nacional

Seria relativamente fácil restringir este conceito a Cristiano Ronaldo, porventura o "símbolo" mais reconhecido e reconhecível em todo o Mundo de um atleta de excelência português. É justo, contudo, salientar que nesse aspecto outros houve que foram notícia pela positiva, como foi o caso do ciclista Rui Costa, do tenista João Sousa ou do ultra-maratonista Carlos Sá, entre outros, "lembraram" os portugueses de que desporto não é apenas futebol e que, ao contrário do "desporto-rei", para se chegar a um tamanho patamar de notariedade há quase sempre mais obstáculos a vencer do que os da própria modalidade, desde logo a indiferença. 

4. Exposições

O ano começou com uma excelente exposição no CAM sobre a obra de Amadeo Sousa Cardoso e termina com uma exposição no Museu Nacional de Arte Antiga com obras provenientes de um dos melhores museus do mundo, o Museu do Prado. Pelo meio milhares de pessoas tiveram igualmente a possibilidade de conhecer a Encomenda Prodigiosa no Museu de São Roque e no Museu Nacional de Arte Antiga e aderir em massa à exposição de Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda. Num país com um crescente desinvestimento na Cultura a "persistência" numa oferta rica e variada de eventos culturalmente relevantes é fundamental para contrariar o risco de um país "sem memória".

3. Papa Francisco

Não creio que se distinga dos seus antecessores por transmitir uma mensagem de modernidade ou sequer de rotura na igreja. Distingue-se dos anteriores pela sua simplicidade de proximidade com os fieis. E as pessoas parecem gostar por se reverem em alguém que, apesar do cargo que ocupa, não será afinal tão diferente deles. Tem conquistado tudo e todos pela sua simpatia e, reflexo disso mesmo, a Praça do Vaticano voltou a encher-se de gente para o ouvir. A espontaneidade de cada um dos seus gestos é a todo o momento "notícia". Infelizmente, tendo em conta a sua idade, poderá ter chegado demasiado tarde à Cadeira de São Pedro ou, numa outra perspectiva, poderá ter afinal chegado no momento certo.

2. Nelson Mandela

A morte de alguém é, quase sempre, associado a algo de negativo. Neste caso, contudo, entendo que o desaparecimento deste grande Ser Humano constituiu um grande momento para a humanidade porque permitiu - de forma quase unânime - uma reflexão sobre a sua vida mas, sobretudo, sobre as suas causas. Numa altura em que parecem existir novas sombras sobre a importância de lutar por ideais de liberdade e democracia, Nelson Mandela lembrou-nos que, independentemente das dificuldades e das adversidades, é fundamental lutar pelas causas que merecem verdadeiramente a pena, isto é, aquelas que resultam em beneficio do bem comum.  

1. Tribunal Constitucional

Deixo para o fim e, afinal de contas, para o lugar de maior destaque, a figura de um Órgão de Soberania, independente dos demais, mas com uma função primordial que o destaca dos restantes: zelar pelo exercício regular das funções dos Estado e pela defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos. Para tal analisa as leis que lhe são submetidas à luz dos princípios constantes do documento fundamental de um Estado Democrático: a sua Constituição. Nunca na história contemporânea de Portugal o Tribunal Constitucional terá sido sujeito a tantas criticas e pressões para que, no fundo, deixasse de cumprir as funções para que está destinado em função dos tempos actuais de crise. Pois, bem pelo contrário, são precisamente estes os tempos em que é necessário uma maior "vigilância" do cumprimento de princípios fundamentais, e essa é a maior garantia que os cidadãos podem ter.  

Presumo que seja desta forma que todos aqueles que gostam de reflectir sobre o que de pior e de melhor se passou no ano anterior o fazem. Seja ou não por desta forma, importante mesmo continua a ser o exercício de reflexão que lhe está subjacente. Da minha parte - goste-se ou não - continuarei certamente a fazê-lo, a bem da minha própria consciência. Assim vão as cousas.
   

Sem comentários:

Enviar um comentário