domingo, 4 de setembro de 2011

Case Study

Não deixa de ser curioso que de forma coincidente temporalmente tenham vindo a público os confrangedores resultados dos exames nacionais do 9º e 12º ano ao mesmo tempo que se reacendeu o tema da avaliação dos professores.

É também interessante perceber que pela forma como os assuntos surgem desgarrados entre si sejamos levados a pensar que se tratam de matérias que não se cruzam em momento algum.

A questão da avaliação dos professores é, atrevo-me a dize-lo, uma controvérsia em que basicamente o interesse corporativo de uma classe profissional entende não dever ser objecto de qualquer forma de avaliação ou condescendendo que tal seja inevitável deverá garantir que na prática não resulte qualquer consequência desfavorável para o avaliado.

Em resultado de uma crescente contestação social o anterior Governo acabou por ceder às principais exigências dos sindicatos representativos da classe simplificando aquele que parecia ser um modelo inadequado aos fins a que se destinava.

Pressupõem-se que nessa ocasião os sindicatos tenham concordado com o novo modelo de avaliação na medida em que deram a sua anuência ao mesmo.

O problema é que a paz social não rima com luta sindical e por isso mesmo logo que o governo caíu e não sem que antes o actual partido do Governo tenha tentado suspender o modelo em vigor - ainda que à revelia da Constituição - voltassem a surgir após as eleições novas exigências da referida suspenção.

Acontece que o ano escolar tem uma época bem definida e por isso mesmo a "lógica" temporal dos sindicatos faria todo o sentido na medida em que a suspensão pura e simples da avaliação sem a sua substituição por um outro que carecerá necessáriamente de negociação prévia possibilitaria na prática um ano lectivo sem regras de avaliação.

Felizmente que nessa ocasião o populismo pré-eleitoral do Governo não teve seguimento após as eleições, o que não deixando de se estranhar por manifesta incoerencia, é ainda a medida mais razoável.

Mas porque afinal têm os professores tanta aversão aos processos de avaliação sejam eles quais forem?

Não deveria ser tranquilizante para um professor consciente da sua competência poder ver confirmada em seu próprio beneficio e pelos seus próprios pares essa mesma capacidade para ensinar?

Aparentemente não. Contudo, o problema é manifestamente outro e reside na partidarização das suas reinvidicações por parte de uma estrutura sindical deliberadamente ligada aos partidos com assento mais à esquerda no Parlamento que "viu" na insatisfação dos professores um veículo adequado à transmissão das suas mensagens habituais contra o Governo, seja ele qual for.

No meio disto tudo está uma "classe" aparentemente menor que são os alunos.

Sobre os mesmos recai sempre que são divulgados os resultados dos exames nacionais ou das provas de aferição o ónus do facilitimo das provas quando os resultados são melhores do que o esperado ou, pelo contrário, uma menor capacidade de entendimento das questões colocadas e por arrastamento a incapacidade de a elas responder.

Outros argumentos são também normalmente introduzidos nestas ocasiões, sejam o número excessivo de alunos por sala de aula, o alargamento das actividades extra-curriculares em prejuizo das cadeiras primordiais de ensino, o contexto social das escolas, etc. etc..

Tudo isto será necessáriamente o contributo geral para uma realidade concreta mas, ninguém se poderá igualmente questionar se na base de tão fraco desempenho estará igualmente uma menor capacidade de ensinar?

Olhando, conforme referi inicialmente, a forma como tudo é passado para a opinião pública parece de facto que não existe nenhuma relação directa.

Parece-me, contudo, que é por demais evidente que não é possível separar do problema, por mera conveniência politica ou corporativa, uma parte essencial do mesmo, isto é, o contributo dos professores.

Se durante muitos anos ser professor era uma questão de vocação ao longo dos anos transformou-se numa questão de oportunidade de emprego para recém formados que não dispunham de outras saídas nas suas áreas de especialização.

E é tambérm nesta "viragem" que o ensino, nomeadamente o ensino público, começa a deteriorar-se com todas as consequências que daí emergem e que estão à vista de todos.

Não creio, infelizmente, que os tempos mais próximos venham a alterar de forma significativa esta realidade em prejuizo dos próprios professores mas fundamentalmente em prejuizo dos alunos.

Qualquer profissional tem perfeita noção que é sujeito a uma avaliação diária das suas funções e desempenho e essa avaliação é feita na maior parte das vezes tendo por base critérios subjectivos, ou seja, não definidos formalmente pelas empresas.

A falta de razoabilidade de quem não quer ser avaliado ou que pretenda uma avaliação que valide a incompetência é em si mesmo uma explicação para o estado em que nos encontramos. Se assim não for então como justificar que precisamente quem tem por função avaliar não possa também ele próprio ser avaliado? Assim vão as cousas. 

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