domingo, 21 de novembro de 2010

Officium defunctorum

É fácil qualquer um de nós, nos dias que vão correndo, constatar o sentimento quase generalizado de descrença e desânimo que se abateu sobre os Portugueses.

O motivo é conhecido de todos, ou seja, os efeitos para cada um de nós da "Crise Internacional", nomeadamente os seus reflexos em Portugal.

Parece-me, contudo, que sendo os dias de hoje porventura os mais gravosos para o cidadão comum, não correspondem necessáriamente a uma situação de excepção circunstancial.

Só a manifesta distração ou a nossa secular falta de memória pode levar a essa conclusão.

Portugal é, na sua génese, um país de gente resignada à sua sorte e fundamentalmente de uma passividade por vezes confrangedora perante a adversidade.

Que outro povo na Europa civilizada teria permitido uma ditadura durante 50 longos anos e que mesmo assim só terminou por via da intervenção de um conjunto de militares?

Quem se orgulha de possuír uma palavra - SAUDADE - que aparentemente não terá tradução literal em qualquer outra ortografia?

O que é o FADO senão a expressão cultural de um sentimento de melancolia e tristeza?

Tudo isto nos define enquanto portugueses e tudo isto nos posiciona perante a adversidade, como a que resulta de sobremaneira da actual conjuntura.

Estes são os tempos em que a demagogia e o populismo reinam. E fazem-no porque sabem precisamente que os seus potenciais destinatários se encontram fragilizados e prontos a aceitar todos e quem lhes prometa um "mundo melhor".

A nossa incapacidade de questionar e de adoptar uma atitude construtiva e, sobretudo, positiva, leva-nos a acreditar sempre que aqueles que nos defraudaram antes serão agora os nossos salvadores futuros e, a avaliar pelo sentimento mais ou menos generalizado de insatisfação contra o actual governo, iremos voltar a faze-lo, como se não existisse um antes mas apenas um depois.

E porque não me resigno a este sentimento de inevitabilidade, deixo-me levar pelo inconformismo da escrita de José Régio e digo "Não sei por onde vou, Não sei para onde vou - Sei que não vou por aí!". Assim vão as cousas.

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