domingo, 18 de julho de 2010

Os quartos da casa

Estive recentemente num clínica de Lisboa e dei por mim, enquanto esperava a minha vez, a contar o numero de divisões daquela casa agora transformada em espaço de assistência ambulatória.
Confesso que não fiquei a saber quantas seriam de facto as assoalhadas mas gerou-me uma noção do quão diferentes seriam as relações familiares em anos idos ao ponto de na mesma casa habitarem diversas gerações havendo, manifestamente, espaço para todos.
Não pretendendo efectuar qualquer exercicio saudosista não posso, contudo, deixar de reflectir que parte dos problemas educacionais e de geração actuais derivam certamente do desmembramento das familias, que outrora partilhavam espaços como este.
A familia constituia para as gerações mais novas o apoio que actualmente se pretende seja assegurado quase em exclusividade pelas escolas quando estas, por falta de vocação ou de meios, não o pode já fazer.

Por outro lado o encontro de gerações no mesmo espaço permitia a familiarização com diferentes experiências de vida, facto que hoje em dia é extremamente raro.
Actualmente as familias estão espartilhadas: os mais idosos estão nas suas proprias casas ou em lares, os pais estão absorvidos cada um por si nos respectivos empregos desde cedo até ao fim do dia, e os mais novos entram para os infantários cada vez mais precocemente e numa fase mais adulta passam parte do dia - quando não têm aulas - por sua conta, muitas das vezes absorvendo "ensinamentos" perfeitamente dispensáveis e que mais tarde se revelam verdadeiramente nefastos.
Os períodos de férias não são aproveitados para uma verdadadeira convivência familiar mas apenas como mais um motivo para pais e filhos se separarem, porquanto estes ultimos são "entregues", não raras vezes, à responsabilidade de colónias de férias ou de um ATL.
Não pertenci às gerações que habitavam casas de 12 assoalhadas por isso, repito, não me move qualquer sentimento de saudade, mas tenho bem presente que o individualismo está a tomar conta da sociedade e, assim, temo bem que no futuro a cada um de nós baste uma casa onde nós próprios possamos habitar. Assim vão as cousas.

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