terça-feira, 22 de junho de 2010

A honra dos mortos

A mediocridade do nosso país não se mede apenas pela sua fraquissima competitividade ou pela (falta de) qualidade da nossa "classe politica". Mede-se também pela sua incapacidade em reconhecer os méritos de quem, com toda a propriedade e mérito, consegue fugir a essa mesma mediocridade.

Vem esta convicção a proposito dos diversos comentários que tenho tido ocasião de ler e ouvir a proposito da obra do escritor José Saramago. Dizem uns dele que não conseguem ler os seus livros por causa da pontuação. Mas, terão de facto chegado a ler alguma coisa? Dizem outros que Sophia ou Lobo Antunes mereciam mais o Nobel. Não será que o Nobel, como qualquer outro prémio, confere simultaneamente justiça a quem o ganha e uma injustiça a quem não o ganhou? Fala-se das suas convicções politicas e a falta de convicção regiliosa.

Eu, que diga-se não partilho das primeiras e sou indiferente em relação às segundas, acho que o "problema" é que José Saramago sempre foi coerente e isso, claro está, é condenável num país de salta pocinhas. Queiram crêr que grande parte da controvérsia que rodeou algumas das suas obras - curiosamente nem se podem considerar as melhores - foram criadas por motivos exógenos. Aqueles mesmos que queriam evitar a sua leitura, contribuiram para a massificação da mesma. E a cereja no topo do bolo foi a crónica do jornal oficial do Vaticano que, a proposito da morte de José Saramago, lhe fez uma espécie de Auto de Fé do sec. XXI.

É por estas e por outras que neste nosso país a fuga à mediocridade só é possivel, tal como José Saramago e tantos outros, mudando de país, para depois os elogiar, hipocritamente, depois de mortos. Assim vão as cousas.

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