"Em o primeyro dia do Janeyro de mil sette centos e quarenta e sette annos, eu Pedro Vicente Ribeyro, Vigario desta Parochial Igreja (...)". Desta forma ficava registado para a posteridade o baptismo de um nada proximo parente nascido em 24.12.1746.
O novo acordo ortográfico tem sido objecto de um considerável volume de considerações às quais eu não me pretendo juntar nomeadamente na perspectiva dos respectivos méritos ou deméritos. Pretendo, isso sim, desmistificar o argumento de que a tradição escrita do português se apresenta, na forma em que a actualmente a conhecemos e aprendemos na escola, de forma imutável ao longo das diversas gerações. Bem pelo contrário, a lingua portuguesa na sua vertente escrita tem-se adaptado, ao longo dos séculos, à oralidade.
Cada um de nós, no contexto da sua geração, aprendeu a escrever de acordo com os canones ortográficos em vigor nesse momento, tenham eles sido determinada por decreto ou não, sem nos questionarmos se os mesmos representavam uma rotura com o passado. E se certamente todos nós nos habituámos sem dificuldades a perceber que "farmácia" não se escreve com "ph" ou que "Janeyro" se escreve com "i", não tenho qualquer duvida em ter como certo que as gerações futuras não terão qualquer problema em assimilar "direto" em vez de "directo" ou "exato" onde antes se escrevia "exacto".
O que a mim verdadeiramente me preocupa, meus caros, é se as gerações vindouras (e as actuais?) saberão que existe "vida" para além das abreviações "tb", "qd" ou "pq" e por aí fora. Mas isso já são contas de outro rosário. Assim vão as cousas.
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